25º Domingo do Tempo Comum - Ano C
"Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem?" Lc 16, 11
O verdadeiro bem
“No fundo, o que é que não tem a ver com o dinheiro?” concluía alguém numa daquelas conversas que o tema “crise” desencadeia e em que se fica com uma sensação de impotência. Claro que apresentámos logo várias “coisas” que não se subordinam ao dinheiro, “valores” que gostaríamos, isso sim, que o dinheiro se subordinasse a eles. Mas o incómodo da frase permaneceu além da conversa. Porque sabemos como o dinheiro nos seduz e embriaga, como facilmente ganha contornos de divindade, a oferecer segurança e felicidade sem fim, e cria um mundo irreal e distante da pobreza e necessidade dos outros.
Nestes dias por algumas terras brasileiras guardo a impressão das muitas assimetrias entre riqueza e pobreza, especialmente visíveis nos extensos e sobrepopulados bairros de habitações degradadas e sem saneamento nas grandes cidades. É verdade que é um país de oportunidades e onde, com esforço e trabalho, muitos ascendem na escala social. Também fui sensível à espantosa alegria e gosto de viver, que caracteriza a vida da imensa maioria que, vivendo com as condições básicas, não se angustia com aquilo que não pode ter e faz a experiência da amizade, da partilha e da solidariedade. Como dizia um amigo meu, “o pior mesmo é a exclusão, o aumento de quem vive na miséria, sem capacidade de lutar por uma vida melhor, e sem quem lhe dê a mão.” Dos muros altos do Morumbi (o bairro rico de São Paulo) às favelas onde também a fraternidade semeia esperança, é um país em ebulição em que a aprendizagem a lidar com o “vil dinheiro” é sempre urgente. Como entre nós e, no fundo, dentro de nós!
Creio que alguma dureza de Jesus quando fala sobre o dinheiro é consequência do nosso esquecimento de que somos administradores e não “donos” dos bens deste mundo. Porque é preciso ser fiel ao “vil dinheiro” (a insistência do adjectivo não é coincidência!), quer dizer, ser responsável, aplicando-o no essencial que tem a ver com a justiça, com a equidade, com o maior bem que é a vida de todos e não apenas a “engorda” de alguns. O administrador do evangelho percebeu que, mais importante do que ganhar muito nas comissões administrativas que cobrava, seria melhor partilhar os lucros com os clientes do seu senhor. Quantas empresas se desenvolveriam mais com este princípio tão simples? Quanto trabalho seria valorizado, se a ganância que alimenta o luxo absurdo, recuasse em favor de uma justiça mais distributiva? Jesus fala do “verdadeiro bem” contrapondo-o ao “vil dinheiro”! De que se trata? Que riqueza é esse bem maior, capaz de nos unir a Deus e aos outros, numa alegria feita generosidade e gratuidade, “tesouro que a traça não rói e os ladrões não roubam”? O que é que na nossa vida não tem ainda a ver com esse “verdadeiro bem” ?
P. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade 22.09.2013
A liturgia sugere-nos, hoje, uma reflexão sobre o lugar que o dinheiro e os outros bens materiais devem assumir na nossa vida. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, os discípulos de Jesus devem evitar que a ganância ou o desejo imoderado do lucro manipulem as suas vidas e condicionem as suas opções; em contrapartida, são convidados a procurar os valores do “Reino”.
- Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia os comerciantes sem escrúpulos, preocupados em ampliar sempre mais as suas riquezas, que apenas pensam em explorar a miséria e o sofrimento dos pobres. Amós avisa: Deus não está do lado de quem, por causa da obsessão do lucro, escraviza os irmãos. A exploração e a injustiça não passam em claro aos olhos de Deus.
- O Evangelho apresenta a parábola do administrador astuto. Nela, Jesus oferece aos discípulos o exemplo de um homem que percebeu como os bens deste mundo eram caducos e precários e que os usou para assegurar valores mais duradouros e consistentes… Jesus avisa os seus discípulos para fazerem o mesmo.
- Na segunda leitura, o autor da Primeira Carta a Timóteo convida os crentes a fazerem do seu diálogo com Deus uma oração universal, onde caibam as preocupações e as angústias de todos os nossos irmãos, sem excepção. O tema não se liga, directamente, com a questão da riqueza (que é o tema fundamental da liturgia deste domingo); mas o convite a não ficar fechado em si próprio e a preocupar-se com as dores e esperanças de todos os irmãos, situa-nos no mesmo campo: o discípulo é convidado a sair do seu egoísmo para assumir os valores duradouros do amor, da partilha, da fraternidade.
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