25º Domingo do Tempo Comum - Ano A

20-09-2020 08:29

 

 

 

 

"Os últimos serão os primeiros e os primeiro serão os últimos" Mt 20, 16a

 

Há quem goste de ganhar porque deu o seu melhor, bateu o seu recorde, ultrapassou um limite. E há quem goste de ganhar porque ficou à frente de todos, pode olhar de cima os demais, julga que vale mais do que os outros. Os primeiros conseguem partilhar a alegria, consolam os que ficaram em segundo ou em último, agradecem a todos os que os ajudaram. Os segundos inebriam-se com as palmas, acham-se mais merecedores do que os outros, e todos os louros são deles. Posso estar a fazer uma caricatura dos sentimentos de alguém vitorioso, mas até nas caricaturas há um pouco de verdade. 

Escutamos, infelizmente, demasiadas vezes, desabafos deste tipo: “Já não sirvo para nada”; “O que é que ainda cá ando a fazer?”; “Deus esqueceu-se de mim!”. A exigência cega da economia tende a valorizar as pessoas pela sua utilidade e produtividade. E num tempo em que o valor do trabalho humano é talvez a maior questão social a resolver para o futuro da humanidade, o descarte das pessoas é profunda interpelação. A contingência do teletrabalho que a pandemia multiplicou, o desemprego avassalador de inumeráveis profissionais, a gritante desigualdade dos salários, as novas escravidões, os novos êxodos de pobres e esfomeados parecem significar pouco na necessária transformação dos modelos económicos. Cada vez mais, ou todos contam e participam no desenvolvimento, ou não há paz. Dizia-o em 1967 o Papa S. Paulo VI: “Desenvolvimento é o novo nome da paz”. 

Vem isto a propósito, ou a despropósito, da parábola dos trabalhadores da vinha que Jesus conta sobre o Reino dos Céus. Importa sublinhar isto, pois não se trata de um tratado de justiça social nem de princípios laborais. O salário não mede a quantidade de trabalho nem as horas significam um peso, antes sim a alegria de, desce cedo, “trabalhar na vinha do Senhor”, que é viver com Ele e dar sabor à vida. É, acima de tudo, a vida eterna, a totalidade de graça que Deus quer dar. A religião vivida em termos contabilísticos e os méritos que se acumulam para obter recompensa contrastam com a absoluta generosidade do dono da vinha. O “olhar mau” porque o Senhor “é bom” revela o espírito mesquinho de quem vive a fé para “ganhar aos outros”, “ficar à frente dos outros”, “ser mais perfeito que os outros”. É assim que primeiros e últimos só contam para nós: para Deus são todos importantes. E como Ele se alegra por todos terem ocupação na sua vinha! 

Há tanto a aprender com esta parábola! Mesmo nas questões relativas ao trabalho enquanto realização pessoal e participação na sociedade. Também nas interpelações que esta pandemia faz às comunidades cristãs onde o trabalho para todos revoluciona hábitos e pequenos poderes que já não servem. Mesmo nas realidades familiares em que a entreajuda e a partilha são condição para uma alegria maior de todos. Lembro o desafio do Papa Francisco em “primeirear”, tomar a iniciativa de começar em algum lado, com alguns “primeiros”, sem esquecer nenhuns “últimos”! 

Pe. Vitor Gonçalves 

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir um Deus cujos caminhos e cujos pensamentos estão acima dos caminhos e dos pensamentos dos homens, quanto o céu está acima da terra. Sugere-nos, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos esquemas de Deus.

  • A primeira leitura pede aos crentes que voltem para Deus. "Voltar para Deus" é um movimento que exige uma transformação radical do homem, de forma a que os seus pensamentos e acções reflictam a lógica, as perspectivas e os valores de Deus.
  • O Evangelho diz-nos que Deus chama à salvação todos os homens, sem considerar a antiguidade na fé, os créditos, as qualidades ou os comportamentos anteriormente assumidos. A Deus interessa apenas a forma como se acolhe o seu convite. Pede-nos uma transformação da nossa mentalidade, de forma a que a nossa relação com Deus não seja marcada pelo interesse, mas pelo amor e pela gratuidade.
  • A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de um cristão (Paulo) que abraçou, de forma exemplar, a lógica de Deus. Renunciou aos interesses pessoais e aos esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no centro da sua existência Cristo, os seus valores, o seu projecto.

Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

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Pe. Vitor Gonçalves

Rádio Renascença