25º Domingo do Tempo Comum - Ano A
Não seria melhor dizer "emprego" para todos? Se formos às etimologias das duas palavras podemos ficar admirados! Enquanto a segunda significa envolvimento numa causa e num projeto comum, a primeira está ligada originariamente a tortura, atividade difícil, é só tardiamente ganha o sentido de “aplicação de forças e talentos para um fim”. É verdade que o trabalho aparece quase como um castigo no relato bíblico das origens: “Comerás o pão com o suor do teu rosto!” (Gn 3, 19). Mas não foram o homem e a mulher criados à imagem e semelhança de Deus para também serem co-laboradores na criação que lhes foi confiada?
O trabalho humano é assim entendido pela Constituição ‘Gaudium et spes’, no Concílio Vaticano II: “o homem, criado à imagem de Deus, recebeu a missão de submeter a si a terra e tudo o que ela contém, de governar o mundo na justiça e na santidade e, reconhecendo Deus como o Criador de todas as coisas, de se orientar a si e ao universo todo para Ele, de maneira que, estando tudo subordinado ao homem, o nome de Deus seja glorificado em toda a terra” (n. 34). Nas atuais questões sobre o trabalho e o emprego, com os desafios da automatização e da robotização, jogam-se decisões fundamentais para a humanidade. Por natureza precisamos de fazer coisas, participar, construir, agir com e sobre o que nos rodeia. É enorme o desconsolo quando ninguém necessita de nós, quando parece que “não servimos para nada”, quando somos “descartáveis”. Viver é também ser querido e ser preciso. Gosto de lembrar que o próprio Jesus disse: “Meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também continuo” (Jo 5, 17).
A parábola dos trabalhadores contratados para a vinha não é um decreto sobre o trabalho nem sobre a justa remuneração. O dono sai por cinco vezes a diferentes horas do dia a contratar todos os que encontra desocupados. Não pede currículos nem escolhe os mais capazes, mas contrata todos. A iniciativa é dele. E, escandalosamente, paga a todos os que tinha acordado com os primeiros: o denário correspondente ao salário de um dia, suficiente para o sustento de uma família. O Reino de Deus não é uma empresa, nem Deus é o dono de uma multinacional. O seu desejo é que ninguém fique excluído de participar no trabalho e na comunhão com Ele. Os da primeira hora podem saborear a alegria de serem os primeiros (referência aos judeus), mas aos da última (os gentios), é também oferecida a mesma alegria. O problema é quando contabilizamos em méritos e regalias aquilo que, por ser de Deus, não se mede em quantidade. A inveja e a ganância são morte para quem não vive a bondade de Deus!
A participação de todos, a justiça para que, a cada pessoa, lhe seja dado o que lhe é próprio para uma vida digna, a alegria do essencial, o valor dos que são considerados últimos, tudo isto cabe nesta parábola de trabalho e festa. Não é o vinho um sinal da graça de Deus? Mas como haverá festa e abundância para todos se houver sempre quem se julga superior aos outros e acumula para si o que não lhe pertence? É fácil e conveniente esquecer que “para todos” é o ritmo do coração de Deus!
Padre Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir um Deus cujos caminhos e cujos pensamentos estão acima dos caminhos e dos pensamentos dos homens, quanto o céu está acima da terra. Sugere-nos, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos esquemas de Deus.
- A primeira leitura pede aos crentes que voltem para Deus. “Voltar para Deus” é um movimento que exige uma transformação radical do homem, de forma a que os seus pensamentos e acções reflictam a lógica, as perspectivas e os valores de Deus.
- O Evangelho diz-nos que Deus chama à salvação todos os homens, sem considerar a antiguidade na fé, os créditos, as qualidades ou os comportamentos anteriormente assumidos. A Deus interessa apenas a forma como se acolhe o seu convite. Pede-nos uma transformação da nossa mentalidade, de forma a que a nossa relação com Deus não seja marcada pelo interesse, mas pelo amor e pela gratuidade.
- A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de um cristão (Paulo) que abraçou, de forma exemplar, a lógica de Deus. Renunciou aos interesses pessoais e aos esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no centro da sua existência Cristo, os seus valores, o seu projecto.
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