2 Domingo do Advento - Ano B
"Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus." Mc 1, 1
Com os sinais natalícios a invadir o nosso quotidiano até parece estranho este tempo de "gravidez" a que chamamos Advento. O que privilegiamos é o "instantâneo", o "já", e por isso custa cada vez mais ter de esperar. Basta ver e ouvir a impaciência que parece contagiante quando algum imprevisto acontece. Mas a capacidade de esperar também se educa e até nos ajuda a perceber a riqueza de cada tempo. E os dias que antecedem o Natal são um convite a exercitar a esperança, não só de prendas ou coisas doces, mas de uma renovação em nós e à nossa volta. Como se fosse um princípio, um rebento de vida nova no tronco aparentemente seco que é o correr dos nossos dias, onde algum desânimo e desencanto se instalaram.
O evangelista Marcos (o nosso guia litúrgico deste ano) começa o seu evangelho com este título: "Início da Boa Nova". Parece querer dizer-nos que, com Jesus começa algo novo, algo nunca antes sucedido, algo que o tempo não fará "velho". Dá-nos a notícia de algo novo e bom, e é isso que acontece a quem encontra Jesus Cristo. Experimenta-se a libertação do medo e das opressões, a cura das enfermidades, a abertura de horizontes de futuro, a valorização dos dons que parecia não existirem, a vida com um sinal de crescimento. Todo o início se reveste de surpresa e S. Marcos quer oferecê-la a todos desde a primeira frase: ele diz que Jesus é o Messias (a surpresa esperada pelos judeus) e Filho de Deus (a surpresa inesperada para a humanidade)! Quando entramos na simplicidade das palavras de S. Marcos descobrimos a sua vontade de nos transmitir a pessoa de Jesus, não com a espada de um guerreiro ou os discursos de um doutrinador mas com a humanidade e a proximidade do Deus que ama e salva todos. A boa nova passa pela humanização da vida, pela possibilidade de recriar e renovar a partir da história, tantas vezes imperfeita, de cada um.
Saber que é possível renovarmo-nos e fazer novo o que nos parecia irremediável rima com a esperança. Essa é a "matéria" do Advento que não nos cansaremos de aprender. É possível "começar de novo", e descobrir que "vai valer a pena, ter amanhecido" como canta Ivan Lins. E nós, que nos habituámos a desistir facilmente, a querer não o "novo" mas o que é moda de ocasião, precisamos descobrir como o que existe pode ser a base do que ainda virá a ser! João Batista coloca o dedo na ferida (não para fazer sofrer mas para curar!) e fala de perdão dos pecados. A conversão é a atitude que possibilita um novo começo. Quantos sofrimentos se prolongam porque queríamos ser perfeitos à primeira? Quantas possibilidades se perdem porque não avaliamos e corrigimos com a força do perdão? O perigo é iludirmos a necessidade de conversão e recusar o apelo a "ir ao deserto" (trata-se de ir ao essencial, coisa que só fazemos em grande perigo!). "Preparar o caminho do Senhor" inicia-se ao reconhecer os erros e pecados que nos impedem de crescer. Não para uma auto-flagelação ou mortificação que são morte do perdão e da alegria; mas para ouvir a voz de Jesus que perdoa, liberta e nos lança para a frente! Trata-se de passar a viver para o Reino de Deus e para a sua justiça, a descentrarmo-nos de um individualismo "místico-gasoso" que nos enrodilha em escrúpulos, a colocar os pobres no centro da vivência da fé. É recomeçar e iniciar muitas vezes, e a ser uma Igreja em conversão!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do segundo domingo de Advento constitui um veemente apelo ao reencontro do homem com Deus, à conversão. Por sua parte, Deus está sempre disposto a oferecer ao homem um mundo novo de liberdade, de justiça e de paz; mas esse mundo só se tornará uma realidade quando o homem aceitar reformar o seu coração, abrindo-o aos valores de Deus.
Na primeira leitura, um profeta anónimo da época do Exílio garante aos exilados a fidelidade de Jahwéh e a sua vontade de conduzir o Povo - através de um caminho fácil e direito - em direcção à terra da liberdade e da paz. Ao Povo, por sua vez, é pedido que dispa os seus hábitos de comodismo, de egoísmo e de auto-suficiência e aceite, outra vez, confrontar-se com os desafios de Deus.
No Evangelho, João Baptista convida os seus contemporâneos (e, claro, os homens de todas as épocas) a acolher o Messias libertador. A missão do Messias - diz João - será oferecer a todos os homens esse Espírito de Deus que gera vida nova e permite ao homem viver numa dinâmica de amor e de liberdade. No entanto, só poderá estar aberto à proposta do Messias quem tiver percorrido um autêntico caminho de conversão, de transformação, de mudança de vida e de mentalidade.
A segunda leitura aponta para a parusia, a segunda vinda de Jesus. Convida-nos à vigilância - isto é, a vivermos dia a dia de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-nos na transformação do mundo e na construção do Reino. Se os crentes pautarem a sua vida por esta dinâmica de contínua conversão, encontrarão no final da sua caminhada terrena "os novos céus e a nova terra onde habita a justiça".
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