2º Domingo do Tempo Comum - Ano A
“Eu não O conhecia, mas foi para Ele Se manifestar a Israel que eu vim baptizar na água.” Jo 1, 31
É curioso observar as pessoas nas nossas deslocações pela cidade. O telemóvel tornou-se um prolongamento da mão e talvez no futuro seja implantado logo à nascença! As cabeças debruçadas sobre um écran causam as situações mais caricatas, e até perigosas, que nem ousávamos imaginar. É importante reconhecer: a nova droga de consumo generalizado é “estar ligado”, “saber o que acontece”, “dar a conhecer a mais pequena insignificância”. Conhecer e ser conhecido são o novo alimento, capaz de encher de sentido uma experiência e uma vida. O que está longe torna-se mais importante do que o que está perto, e vive-se à distância! Quem vai connosco pouco interessa porque o que está longe é mais urgente! O máximo conhecimento acaba por eliminar a proximidade, e o desprezo por quem temos à nossa frente e ao lado matam a comunhão e a comunicação!
A sede de ser conhecido e de julgar que conhecemos os outros pode revelar um enorme egocentrismo. Conhecer não é dominar nem absorver, mas abrir-se e sair de si. Conhecer alguém cria um laço não só intelectual mas da ordem do amor. Por isso gosto tanto desta mútua implicação entre conhecer e amar, cada um a fazer crescer o outro! Admira-me a repetição de João Baptista ao dizer por duas vezes que não conhecia Jesus. Era familiar, mas não conhecia a sua identidade divina. Só se conhece Deus por revelação ou por testemunho. Jesus não se fez homem para ser conhecido pelas suas obras humanas e sociais, como benfeitor ou herói da humanidade. Veio ao mundo como Filho de Deus. E ainda que muitos fiquem no homem excepcional, na sua doutrina e obras que são verdadeiramente inspiradoras, conhecê-lo humano e divino implica o dom da fé, que transforma a nossa vida e a projecta na eternidade.
Quando João Baptista testemunha que conhece Jesus e o apresenta como Filho de Deus, a sua missão parece estar completa e ele pode diminuir. Mais tarde enviará discípulos com uma pergunta, a que Jesus responderá apontando os sinais messiânicos de libertação e salvação. E João escreverá a assinatura no seu testemunho com o sangue. Hoje, quem apontará com o dedo o Filho de Deus aos nossos contemporâneos, senão os que dizemos acreditar n’Ele? E isso não passará pela modificação dos nossos modos de consumo, pelo questionamento de hábitos pessoais e sociais que escravizam e exploram, pelo compromisso em prol da justiça e da dignidade de todos, em especial os mais pobres, pelo testemunho de uma fé feliz e criadora de fraternidade? Assumir as consequências do conhecimento e do encontro de Jesus Cristo pode não dar-nos 5000 amigos nas redes sociais, mas certamente nos fará mergulhar mais nos olhos uns dos outros!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo coloca a questão da vocação; e convida-nos a situá-la no contexto do projecto de Deus para os homens e para o mundo. Deus tem um projecto de vida plena para oferecer aos homens; e elege pessoas para serem testemunhas desse projecto na história e no tempo.
- A primeira leitura apresenta-nos uma personagem misteriosa – Servo de Jahwéh – a quem Deus elegeu desde o seio materno, para que fosse um sinal no mundo e levasse aos povos de toda a terra a Boa Nova do projecto libertador de Deus.
- A segunda leitura apresenta-nos um “chamado” (Paulo) a recordar aos cristãos da cidade grega de Corinto que todos eles são “chamados à santidade” – isto é, são chamados por Deus a viver realmente comprometidos com os valores do Reino.
- O Evangelho apresenta-nos Jesus, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Ele é o Deus que veio ao nosso encontro, investido de uma missão pelo Pai; e essa missão consiste em libertar os homens do “pecado” que oprime e não deixa ter acesso à vida plena.