2º Domingo do Advento - Ano B

10-12-2017 09:14

 

“Eu baptizo-vos na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo.” Mc 1, 8

 

 

Penso que é fácil gostarmos do S. João Baptista das festas de junho, com o cordeirinho ao colo e acarinhado com inúmeras vilas e aldeias que o têm como padroeiro. Confesso que, certamente também eu, me chocaria com o João Baptista vestido de pêlos de camelo, que se alimentava de gafanhotos e mel silvestre, e proclamava um baptismo de penitência, com palavras agudas como uma espada de dois gumes. Com a melopeia natalícia destes dias quase nem damos conta de como o percursor é figura fundamental do advento. Pois não há preparação sem mudança, e não há renovação sem a conversão de espírito e de actos, que fazem novas todas as coisas. Volta, João Baptista!  

Confundimos frequentemente felicidade com facilidade. Gastamo-nos a “maquilhar” a realidade com “pós-de-arroz” que ocultam a verdade de que a vida é difícil e, também por isso, maravilhosa. É o que podemos encontrar na frequente “felicidade” que se quer oferecer aos desejos imediatos de crianças (e menos crianças) que obtêm o que pedem com toda a facilidade. Não estará também presente na constante reclamação de direitos sem a justa referência a deveres? Corrigir, educar, dizer “não” por que há um “sim” maior, adiar a recompensa, ultrapassar a emoção inebriante do imediato, mudar por causa de um valor maior são “pequenos sofrimentos” que tantas vezes se evitam porque são incómodos e perturbam. Mas será que se pode crescer verdadeiramente se os desprezamos? Volta, João Baptista!

O baptismo de João na água, verdadeiro mergulho no rio Jordão, aponta para o banho do Espírito Santo que Jesus veio trazer. O primeiro, sinal de disponibilidade para acolher a novidade e a festa do segundo; compromisso para receber a vida de filho de Deus que o segundo realiza em nós. Unidos no único baptismo que é mergulhar na paixão, morte e ressurreição de Jesus, eis o início de vida nova. É o nosso natal, vivência plena de alegria, liberdade e paz para ser no mundo presença de Deus, não só a humanizar a vida, mas também, de algum modo, a divinizá-la. Que alegria maior do que esta? Pressentida no encontro de João e Jesus, ainda no seio das suas mães, manifestada no baptismo de Jesus, e testemunhada nos sinais de salvação que são comunicados a João na prisão! As exigências de um amor maior fazem-nos mais felizes? Volta, João Baptista!

Claro que não precisas voltar, S. João Baptista. Acordas-nos tantas vezes para o essencial, para a reconciliação, para o encontro verdadeiro com Cristo! Reanimas-nos na humildade de servir, na audácia de revelar as feridas para serem curadas, na alegria de fazer crescer os outros. Encorajas-nos a não desistir quando tudo parece adverso, a não pactuar com o que não dignifica o homem, a não viver de qualquer maneira. Não precisas voltar, nós é que precisamos continuar a aprender contigo!

 

A liturgia do segundo domingo de Advento constitui um veemente apelo ao reencontro do homem com Deus, à conversão. Por sua parte, Deus está sempre disposto a oferecer ao homem um mundo novo de liberdade, de justiça e de paz; mas esse mundo só se tornará uma realidade quando o homem aceitar reformar o seu coração, abrindo-o aos valores de Deus.

  • Na primeira leitura, um profeta anónimo da época do Exílio garante aos exilados a fidelidade de Jahwéh e a sua vontade de conduzir o Povo – através de um caminho fácil e direito – em direcção à terra da liberdade e da paz. Ao Povo, por sua vez, é pedido que dispa os seus hábitos de comodismo, de egoísmo e de auto-suficiência e aceite, outra vez, confrontar-se com os desafios de Deus.
  • No Evangelho, João Baptista convida os seus contemporâneos (e, claro, os homens de todas as épocas) a acolher o Messias libertador. A missão do Messias – diz João – será oferecer a todos os homens esse Espírito de Deus que gera vida nova e permite ao homem viver numa dinâmica de amor e de liberdade. No entanto, só poderá estar aberto à proposta do Messias quem tiver percorrido um autêntico caminho de conversão, de transformação, de mudança de vida e de mentalidade.
  • A segunda leitura aponta para a parusia, a segunda vinda de Jesus. Convida-nos à vigilância – isto é, a vivermos dia a dia de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-nos na transformação do mundo e na construção do Reino. Se os crentes pautarem a sua vida por esta dinâmica de contínua conversão, encontrarão no final da sua caminhada terrena “os novos céus e a nova terra onde habita a justiça”.

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