17º Domingo do Tempo Comum - Ano C
“Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos.” Lc 11, 1
A palavra que mais me ocorre quando penso em oração é esta. Porque creio que foi isto que originou o pedido dos discípulos ao verem Jesus rezar. Viram a sua completa entrega ao Pai, aquele amor e confiança que depois transborda nas palavras e nos gestos que abraçam e salvam os que mergulham no seu olhar. E Jesus corresponde ao pedido dando-nos o “Pai Nosso”. Já conheciam e rezavam certamente os salmos, esses admiráveis poemas-oração que ainda hoje alimentam muitas das nossas orações. Mas ousou oferecer, em poucas frases, o amor confiante de filhos que somos, a aprender a ser irmãos, que louvamos e agradecemos, que acreditamos na sua vontade de sermos felizes. Também ensinou alguns pedidos simples: o pão para cada dia para não cedermos à tentação de endeusar os bens, o perdão com a condição de perdoarmos sempre, e que nos livrasse da tentação e do mal. É a oração-comunhão que abraça tantos dos nossos diálogos íntimos.
É possível fazer cursos de oração e ler obras maravilhosas sobre o mesmo tema. E haverá sempre riqueza na experiência partilhada e reflectida. Mas o melhor da oração é como aprender a nadar: é dentro, mergulhando e vindo à superfície, crescendo na confiança de Deus nos abraçar e amar como somos, algumas vezes caminhando sobre as águas e vencendo o medo, outras, pedindo a Jesus que nos estenda a sua mão. Como tudo o que é importante, só cresce em nós a intimidade com Deus se fazemos como Jesus, e no silêncio e no amor dos outros “estamos com o Pai”!
Duas pequenas histórias contadas por Anthony de Mello sobre a oração. A primeira: “Uma avó: Já rezas as tuas orações todas as noites? O neto: Claro que sim! E de manhã? Não! Durante o dia não tenho medo!” A segunda: “Uma piedosa anciã, ao acabar a guerra: Deus foi muito bom para nós: rezámos sem parar... e todas as bombas caíram na outra parte da cidade!”
Pedir e procurar é um convite que Jesus associa à oração. Quando pedimos e procuramos Deus, abrimo-nos, e o essencial pode revelar-se. Podemos descobrir melhor que “Deus é o Senhor dos impossíveis, mas os possíveis são nossa responsabilidade”! Jesus insistiu para não nos deixarmos dominar pelo medo, assumindo-o como realidade que Ele próprio experimentou. Um medo que não o impediu de amar até ao fim. Cito aqui a última crónica do psiquiatra José Gameiro na revista do Expresso: “Vivemos numa sociedade, sobretudo nos últimos anos, que passa a vida a meter-nos medo. [...] É muito grave quando à descrença se junta o medo. Uma juventude que cresce neste ambiente tem tendência a adotar o lema do ‘salve-se quem puder’, ‘que se lixe’, ‘vou é desenrascar-me’, ‘quem cumpre as regras está feito’... Chega de medo de sermos manipulados, de não sermos completamente livres.”
Pedir o Espírito Santo é o primeiro lugar do “top” de pedidos ao Pai. Porque é Ele quem mais nos faz entrar na sua intimidade. É Ele que nos indica o que podemos mudar e o que importa aceitar. É Ele que liberta do egoísmo e do medo! Por isso o pedimos tantas vezes, não é?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
O tema fundamental que a liturgia nos convida a reflectir, neste domingo, é o tema da oração. Ao colocar diante dos nossos olhos os exemplos de Abraão e de Jesus, a Palavra de Deus mostra-nos a importância da oração e ensina-nos a atitude que os crentes devem assumir no seu diálogo com Deus.
- A primeira leitura sugere que a verdadeira oração é um diálogo “face a face”, no qual o homem – com humildade, reverência, respeito, mas também com ousadia e confiança – apresenta a Deus as suas inquietações, as suas dúvidas, os seus anseios e tenta perceber os projectos de Deus para o mundo e para os homens.
- O Evangelho senta-nos no banco da “escola de oração” de Jesus. Ensina que a oração do crente deve ser um diálogo confiante de uma criança com o seu “papá”. Com Jesus, o crente é convidado a descobrir em Deus “o Pai” e a dialogar frequentemente com Ele acerca desse mundo novo que o Pai/Deus quer oferecer aos homens.
- A segunda leitura, sem aludir directamente ao tema da oração, convida a fazer de Cristo a referência fundamental (neste contexto de reflexão sobre a oração, podemos dizer que Cristo tem de ser a referência e o modelo do crente que reza: quer na frequência com que se dirige ao Pai, quer na forma como dialoga com o Pai).
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