16º Domingo do Tempo Comum - Ano A

19-07-2020 07:55

 

 

“Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro.” Mt 13, 30

 

As parábolas não se explicam. Têm a força de nos surpreender, de revolucionar certa geometria do pensamento que tenta “manter tudo a régua e esquadro”, propõem uma ideia alternativa, um final inesperado. Nascem do quotidiano e abrem para o infinito, para a mudança de critérios e de vida. Revelam a possibilidade de encontrar a beleza de pequenos grandes gestos. Assim se parecem as pequenas histórias do diário rádio e podcast de Tiago Alves e Ana Rita Ramos numa parceria Antena 1 – Have a Nice Day, que contam como “a solidariedade saiu à rua, destemida.” Por entre os números e as incertezas desta pandemia são boas sementes que se partilham humildemente. 

Se Jesus conta histórias ligadas ao cuidado da terra é para nos falar do cuidado entre nós. Se somos capazes, com os nossos olhos, de distinguir o bem e o mal nos outros, isso não nos dá nenhum poder sobre as suas vidas. Quantas desgraças se fizeram em nome do “bem” e da “segurança”! O perigo de um juízo exterior e apressado devia manter-nos alerta para não cairmos nele. Também a parábola do grão de mostarda, tão insignificante e frutuosa ao mesmo tempo, previne-nos para os julgamentos ligados às aparências. Estas parábolas convidam-nos a três atitudes. A prudência, a que Eurípedes chamou “a grande coragem”, pois os julgamentos feitos sobre os outros e os seus comportamentos são tão falíveis! A paciência, essa “arte de esperar”, que até daquilo que é insignificante, podem surgir numerosos frutos, e do que parece igual é possível distinguir e escolher bem. E a humildade, essa condição da terra, o “húmus fecundo e disponível” para receber as sementes grávidas de vida, que coloca tudo e todos no seu lugar. 

A proposta ousada de Jesus é “deixar crescer o trigo e o joio” até à colheita. Então será possível fazer a escolha entre as espigas de trigo e as ervas inúteis. Contrasta com a nossa impaciência em resolver de imediato, em eliminar o mal para que o bem triunfe rapidamente. Os discípulos de Jesus espantam-se como o mal resiste às palavras de Jesus. Estariam também tentados pela mesma impaciência que, por vezes nos invade, quando queremos que o reino de Deus se manifeste. Com o joio semeado no mundo, como no nosso coração, Deus revela-se semeador terno e paciente: Ele espera que façamos a escolha. 

Ainda envolvidos pelo “joio” da Covid-19, o Conselho Pontifício da Cultura publicou o livro “Pandemia e resiliência. Pessoa, comunidade e modelos de desenvolvimento após a Covid-19”. Sorrio ao “após”; quem nos dera! Mas creio que pode ser uma interessante reflexão (acessível no original em https://www.cortiledeigentili.com/wp-content/uploads/2020/05/Pandemia-e-resilienza-9-7-2020.pdf) a iluminar esta “parábola viva” em que somos todos personagens. E junta às três atitudes que propus uma nova: resiliência!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

Pe. Vitor Gonçalves

Rádio Renascença

 

 

 

A liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir o Deus paciente e cheio de misericórdia, a quem não interessa a marginalização do pecador, mas a sua integração na comunidade do "Reino"; e convida-nos, sobretudo, a interiorizar essa "lógica" de Deus, deixando que ela marque o olhar que lançamos sobre o mundo e sobre os homens.

  • A primeira leitura fala-nos de um Deus que, apesar da sua força e omnipotência, é indulgente e misericordioso para com os homens - mesmo quando eles praticam o mal. Agindo dessa forma, Deus convida os seus filhos a serem "humanos", isto é, a terem um coração tão misericordioso e tão indulgente como o coração de Deus.
  • O Evangelho garante a presença irreversível no mundo do "Reino de Deus". Esse "Reino" não é um clube exclusivo de "bons" e de "santos": nele todos os homens - bons e maus - encontram a possibilidade de crescer, de amadurecer as suas escolhas, de serem tocados pela graça, até ao momento final da opção definitiva.
  • A segunda leitura sublinha, doutra forma, a bondade e a misericórdia de Deus. Afirma que o Espírito Santo - dom de Deus - vem em auxílio da nossa fragilidade, guiando-nos no caminho para a vida plena.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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