14º Domingo do tempo Comum - Ano C

07-07-2013 08:54

 

"Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos." Lc 10, 13

 

Como cordeiros...?”

 

         A linguagem pastoril que Jesus tantas vezes utiliza tem uma clareza que certamente os discípulos entenderam, mas não é isenta de ambiguidades. Se a imagem de cordeiros aponta para uma missão pacífica no meio de um mundo agreste e violento, é verdade que há também muito "lobo vestido de cordeiro". E se isso pode significar simples falsidade (será assim tão simples?), quando o "ser lobo" tem a ver com saque e rapina, com mais fortes que devoram os mais fracos, não estamos longe de ver representados estes papéis na política e na economia dos nossos tempos. Sem ir à dureza do provérbio latino de que "o homem é lobo para os outros homens", sabemos como vivem em nós a paz e a violência, o bem e o mal. Aquilo que alimentarmos dentro de nós acabará por se manifestar na nossa vida.

 

         A pedagogia de Jesus é clara: o anúncio do Reino e o dom da paz realiza-se por uma presença desarmada e pobre dos seus discípulos. Desarmada quer dizer de "mãos vazias", em atitude de dar e receber, sem a "violência" que, muitas vezes, a abundância de meios também revela. Porque é grande o perigo de ir ao encontro de outros em atitude de conquista, com poderes e riquezas julgados indispensáveis mas que acabam por ser obstáculo ao essencial cristão: o encontro com Cristo e a vida transformada pelo seu amor. Não são os meios para a evangelização importantes? Sim, se não se tornarem "fins", e estiverem subordinados à essencial pobreza que Jesus propõe. Não é a riqueza, quando se torna acumulação do quer que seja, uma das maiores violências?

 

         Estes cento e poucos dias do Papa Francisco têm sido uma constante interpelação para mim e creio que para muitos. Quer pelos gestos simples mas decididos e coerentes (bem dizia uma irmã sua após a eleição, mais ou menos por estas palavras: "se ele continuar a ser o mesmo, o Vaticano vai ter muito trabalho com ele"), quer pelo "mini-magistério" diário das suas missas na Casa de Santa Marta, onde mora, com palavras que interpelam e pedem vida cristã renovada, o convite à pobreza e à autenticidade são incontornáveis. Como condição para a verdadeira alegria, aquela de que também fala Jesus no evangelho de hoje, "porque os vossos nomes estão inscritos no céu". É a alegria dos pobres, dos que não usam a violência, dos que continuam a servir sem procurar glória nem proveitos egoístas, dos que não se gastam em palavras mas dão o corpo pela verdade. A verdade de Deus amar este mundo! É assim que somos "cordeiros"?

 

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade 07.07.2013

 

Embora as leituras de hoje nos projectem em sentidos diversos, domina a temática do “envio”: na figura dos 72 discípulos do Evangelho, na figura do profeta anónimo que fala aos habitantes de Jerusalém do Deus que os ama, ou na figura do apóstolo Paulo que anuncia a glória da cruz, somos convidados a tomar consciência de que Deus nos envia a testemunhar o seu Reino.

  • É, sobretudo, no Evangelho que a temática do “envio” aparece mais desenvolvida. Os discípulos de Jesus são enviados ao mundo para continuar a obra libertadora que Jesus começou e para propor a Boa Nova do Reino aos homens de toda a terra, sem excepção; devem fazê-lo com urgência, com simplicidade e com amor. Na acção dos discípulos, torna-se realidade a vitória do Reino sobre tudo o que oprime e escraviza o homem.
  • Na primeira leitura, apresenta-se a palavra de um profeta anónimo, enviado a proclamar o amor de pai e de mãe que Deus tem pelo seu Povo. O profeta é sempre um enviado que, em nome de Deus, consola os homens, liberta-os do medo e acena-lhes com a esperança do mundo novo que está para chegar.
  • Na segunda leitura, o apóstolo Paulo deixa claro qual o caminho que o apóstolo deve percorrer: não o podem mover interesses de orgulho e de glória, mas apenas o testemunho da cruz – isto é, o testemunho desse Jesus, que amou radicalmente e fez da sua vida um dom a todos. Mesmo no sofrimento, o apóstolo tem de testemunhar, com a própria vida, o amor radical; é daí que nasce a vida nova do Homem Novo.

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