14º Domingo do Tempo Comum - Ano A
"Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração
Mt 11, 29
“Viver e aprender” foi a resposta que o fadista Carlos do Carmo deu à jornalista que, por ocasião da atribuição do Grammy de carreira, lhe perguntou o que lhe faltava ainda. Uma resposta simples com a grandeza e humildade de quem partilhou a sua alegria com os que passam situações difíceis: “o meu fado é tosco agasalho mas também pode aquecer.”! E terminou dizendo: “enquanto Deus me der saúde farei o melhor que souber e puder”. No respeito pelo gosto de todos sublinho a força das palavras simples que revelam o homem e a sua obra, e se entrelaçam com aquelas que Jesus nos oferece no evangelho de hoje.
“Vinde a Mim”. A experiência cristã é sempre a de um encontro. Um encontro pessoal, olhos nos olhos e frente a frente, com Jesus. Podemos ler tudo o que se escreveu sobre Ele (e não foi pouco), receber todos os testemunhos (e são importantes), mas nada pode substituir estar com Ele. É um encontro que é dom de Deus, já não baseado nos sentidos (como o que os discípulos fizeram), mas na graça do Espírito Santo. Não menos real nem profundo, e capaz de mudar a vida toda por amor. Na intimidade, na palavra, nos sinais, nos irmãos, na Igreja, este encontro multiplica-se. E é sempre libertador, sempre Jesus a “aliviar” os nossos cansaços e opressões, sempre a iluminar a nossa vida. E quando isso não acontece, quando o peso dos pecados ou a carga das obrigações aumentam, quando o coração parece ainda mais apertado, não houve encontro com Jesus.
“Tomai o meu jugo”. O jugo “suave e a carga leve” que Jesus oferece opõem-se às “cargas pesadas” que fariseus e escribas impunham. Ele não quer servos mas amigos, não atrai com leis e preceitos mas com amor, não quer funcionários mas irmãos. Oferece um modo apaixonado de viver, com surpresa e encanto em vez de monotonia, com criatividade e responsabilidade em vez de subserviência, com entrega e ousadia em vez de acomodamento. É uma vida a fazer o melhor que está ao alcance de cada um, e que Deus está sempre a despertar no mais íntimo de nós.
“Aprendei de Mim”. Não é preciso procurar outros modelos. Jesus não propõe nada que não tenha vivido. E não vem complicar a nossa vida, antes a simplifica, ilumina-a e mostra a sua beleza, torna-a mais saudável pelo caminho da humildade. Porque conhece a dificuldade dos nossos caminhos, valoriza os nossos esforços e perdoa os nossos erros, com quem podemos aprender melhor? É uma aprendizagem que se faz em caminho, com Ele e com os outros, reconhecendo os dons únicos que cada um pode desenvolver, animando e levantando quem cai ou esmorece, dando sempre o melhor.
Viver é também aprender. Triste de quem “arruma as botas” antes do tempo, e reduz a sua vida a hábitos ou rotinas vazias, a “passatempos” que não fazem crescer a alma, a lamber feridas que só a coragem de enfrentar novos desafios pode curar. O encontro com Jesus Cristo liberta de todo o fatalismo e inaugura um dinamismo que nunca mais acaba. O fado torna-se então alegria de viver. Viver a aprender!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo ensina-nos onde encontrar Deus. Garante-nos que Deus não Se revela na arrogância, no orgulho, na prepotência, mas sim na simplicidade, na humildade, na pobreza, na pequenez.
- A primeira leitura apresenta-nos um enviado de Deus que vem ao encontro dos homens na pobreza, na humildade, na simplicidade; e é dessa forma que elimina os instrumentos de guerra e de morte e instaura a paz definitiva.
- No Evangelho, Jesus louva o Pai porque a proposta de salvação que Deus faz aos homens (e que foi rejeitada pelos “sábios e inteligentes”) encontrou acolhimento no coração dos “pequeninos”. Os “grandes”, instalados no seu orgulho e auto-suficiência, não têm tempo nem disponibilidade para os desafios de Deus; mas os “pequenos”, na sua pobreza e simplicidade, estão sempre disponíveis para acolher a novidade libertadora de Deus.
- Na segunda leitura, Paulo convida os crentes – comprometidos com Jesus desde o dia do Baptismo – a viverem “segundo o Espírito” e não “segundo a carne”. A vida “segundo a carne” é a vida daqueles que se instalam no egoísmo, orgulho e auto-suficiência; a vida “segundo o Espírito” é a vida daqueles que aceitam acolher as propostas de Deus.
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