13º Domingo do tempo Comum - Ano C
«As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Lc 9, 58
"Segue-Me"
Gosto de lembrar que o primeiro nome dado aos discípulos de Jesus, segundo nos conta os Actos dos Apóstolos, foi: "os do Caminho". E só em Antioquia recebemos o nome de "cristãos". Aquele primeiro nome continua a evocar esta realidade de movimento e procura, de "andar com" Jesus e com outros, de seguir Alguém que se chamou a si mesmo "O caminho", que importa nunca perder na identidade cristã. Se o nosso povo diz, com sabedoria, que "parar é morrer", sabemos que todas as formas de instalar e acomodar a experiência cristã, de retirar às palavras de Jesus a sua força profética de transformação, de cristalizar o Reino de Deus em estruturas simplesmente humanas que nos "endeusam" em vez de servir o projecto de amor de Cristo, são claramente provisórias. A fé em Jesus Cristo é dinâmica, anda de mão dada com a esperança e oferece generosamente actos de amor.
Caminhar implica despojamento, escolha do essencial, uma meta e uma companhia. E ainda que a meta não se vislumbre completamente, é bom saber com quem vamos, porque o caminho até se torna menos árduo se o fazemos com outros. Na decisão de Jesus há uma continuidade e uma ruptura: Jerusalém era a cidade santa onde era sempre maravilhoso poder ir, mas é também a cidade que rejeitou os profetas e a novidade da mensagem de Jesus vai confrontar-se com a lei empedernida dos judeus. Por isso não basta querer seguir Jesus, como desejam os do evangelho de hoje. É preciso revestir-se das suas atitudes de humildade e coragem. É necessário não buscar seguranças a não ser a de anunciar o amor libertador de Deus, de não ficar preso aos laços que impedem de abraçar o horizonte maior do Reino, de não estar voltado para o passado mas olhar para o futuro que Jesus sempre nos propõe. Não é verdade que muitos futuros não se concretizam porque nos agarramos demasiado ao passado? E quantas pessoas encerramos em julgamentos porque deixamos de confiar na esperança? Que diremos a Jesus, para quem o futuro de cada pessoa vale mais que todo o passado, e sempre enche de esperança o vazio que o mal produz?
Seguir Jesus não é algo solitário. É a derrota do individualismo, que pode gerar alguns heróis mas não é capaz de fazer nenhum santo. Com Ele aprendemos que só somos uns com os outros. Jesus não quis ser sem nós, Ele que é "com o Pai e o Espírito". Seguimo-l'O em comunidade, na imensa e rica diversidade de laços de comunhão que podemos sempre a criar (e às vezes também quebramos, mas não podem, a qualquer momento, ser religados?). O importante é não nos acomodarmos, quase como dizia Fernando Pessoa "sem que um sonho no erguer de asa / Faça até mais rubra a brasa / Da lareira a abandonar". Não caiamos na tentação de adaptar o evangelho a uma vida "assim-assim", talvez uma "meia-vida", que nunca enche o coração nem realiza o que somos. Dizia o Papa Francisco no Pentescostes passado: "Muitas vezes seguimo-Lo e acolhemo-Lo, mas até um certo ponto; sentimos dificuldade em abandonar-nos a Ele com plena confiança, deixando que o Espírito Santo seja a alma, o guia da nossa vida, em todas as decisões; temos medo que Deus nos faça seguir novas estradas, faça sair do nosso horizonte frequentemente limitado, fechado, egoísta, para nos abrir aos seus horizontes".
Nestes dias de acção de graças pelo dom da vida e missão de D. José Policarpo como Patriarca de Lisboa, ao confiar a D. Manuel Clemente este serviço, e acolhendo o dom de novos padres, é o seguimento de Jesus que está sempre a acontecer. O que responde cada um ao convite "segue-me", que Jesus continua a dizer a todos nós?
Pe. Vitor Gonçalves
In Voz da Verdade 30.06.2013
A liturgia de hoje sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do “Reino”.
- A primeira leitura apresenta-nos um Deus que, para actuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu (discípulo de Elias) é o homem que escuta o chamamento de Deus, corta radicalmente com o passado e parte generosamente ao encontro dos projectos que Deus tem para ele.
- O Evangelho apresenta o “caminho do discípulo” como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e irrevogável ao “Reino”. Sugere, também, que esse “caminho” deve ser percorrido no amor e na entrega, mas sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito absoluto pelas opções dos outros.
- A segunda leitura diz ao “discípulo” que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar dar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.
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