13º Domingo do Tempo Comum - Ano A
“Se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos…” Mt 10, 42
Não tem sido fácil adaptarmo-nos às mudanças que a pandemia da COVID19 exige de nós. Vamos procurando voltar aos estilos de vida que tínhamos “A.C.” (antes de Covid), sem a consciência da fragilidade da saúde e a responsabilidade social que nos é exigida. Já parámos para agradecer algumas evidências como estas? “Que bom o vírus ser destruído com limpeza e desinfecção. Imaginem que ele só desaparecia com sujidade e mau cheiro?”; “Ainda bem que a seca não é tão forte como noutros anos. Conseguimos imaginar as dificuldades das regiões onde não existe água como temos?”; “E a maravilhosa invenção do ‘álcool-gel”, pelo médico Didier Pittet, que doou a patente à OMS, e tem salvo 5 milhões de vidas por ano nos hospitais de todo o mundo?”.
É doloroso reconhecer mas, de facto, a humanidade revela melhor a sua grandeza, ou a sua pequenez, nas dificuldades do que na facilidade. Quando algo diz respeito a todos, percebemos o quanto estamos interligados e dependentes. E aí, este vírus e tantas outras ameaças que existiram e existirão, questionam o nosso egoísmo e o lugar que os outros têm na nossa vida. O poeta José Gomes Ferreira numa alusão ao dito de Hamlet e ao famoso princípio de Descartes gravou em palavras este paradigma da existência: “Para além do “ser ou não ser” dos problemas ocos, / o que importa é isto: / - Penso nos outros. / Logo existo.”.
O movimento da encarnação de Jesus, (“tornou-se semelhante aos homens” - Flp 2, 7-8) é o mesmo que Ele propõe a todos os discípulos. De nada serve uma religião que não nos re-liga também uns aos outros. Ser humano não é só uma questão de identidade, é um movimento de acolhimento e cuidado por todos. E pela própria criação, pois graças à inteligência e à liberdade, somos dela administradores. A hospitalidade é uma virtude essencial no contexto bíblico. Sem o saberem, muitos acolheram anjos e o próprio Deus em desconhecidos que lhes bateram à porta. Desde Abraão que a Bíblia está repleta do convite a acolher e a fazer o bem a quem quer que seja. Vindo ao mundo, o Filho de Deus faz-se pequenino e sedento de um copo de água que alguém lhe possa dar.
O mais humano em nós é abertura e acolhimento. Não nos salvamos sem os outros e sem descobrir com eles a verdade. Dizia o filósofo Karl Jaspers: “Só alcançamos a verdade do nosso pensamento quando incansavelmente nos esforçamos por pensar colocando-nos no lugar de qualquer outro. É preciso conhecer o que é possível ao homem.” E o que é possível ao homem é encontrar Deus também nos outros!
Padre Vitor Conçalves
in, Voz da Verdade
Padre Vitor Gonçalves
"Olhar o Dia" - Rádio Renascença
Nas leituras deste 13º Domingo do Tempo Comum, cruzam-se vários temas. No geral, os três textos que nos são propostos apresentam uma reflexão sobre alguns aspectos do discipulado. Fundamentalmente, diz-se quem é o discípulo (é todo aquele que, pelo baptismo, se identifica com Jesus, faz de Jesus a sua referência e O segue) e define-se a missão do discípulo (tornar presente na história e no tempo o projecto de salvação que Deus tem para os homens).
- O Evangelho é uma catequese sobre o discipulado, com vários passos. Num primeiro passo, define o caminho do discípulo: o discípulo tem de ser capaz de fazer de Jesus a sua opção fundamental e seguir o seu mestre no caminho do amor e da entrega da vida. Num segundo passo, sugere que toda a comunidade é chamada a dar testemunho da Boa Nova de Jesus. No terceiro passo, promete uma recompensa àqueles que acolherem, com generosidade e amor, os missionários do "Reino".
- Na primeira leitura mostra-se como todos podem colaborar na realização do projecto salvador de Deus. De uma forma directa (Eliseu) ou de uma forma indirecta (a mulher sunamita), todos têm um papel a desempenhar para que Deus se torne presente no mundo e interpele os homens.
- A segunda leitura recorda que o cristão é alguém que, pelo Baptismo, se identificou com Jesus. A partir daí, o cristão deve seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida e renunciar definitivamente ao pecado.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho