12º Domingo do Tempo Comum - Ano A
“Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma.” Mt 10, 28
De entre as muitas imagens de celebrações em tempo de confinamento, certamente alguns vimos aquela em que o padre subiu a um terraço da igreja e, rodeado de prédios, com as pessoas em suas casas, celebrou a eucaristia, “à luz do dia e sobre os telhados”. Semelhantes iniciativas manifestaram inúmeros dotes musicais, jogos, saudações, e festas em varandas. Era preciso vencer o isolamento e não ficar reduzidos a écrans cheios de imagens.
Se o distanciamento social é uma forma de evitar o contágio deste vírus perigoso e de proteger a vida dos mais frágeis, não podemos ceder ao medo. É com prudência e responsabilidade que devemos caminhar. Com novos ritos de cuidado comuns, e redescobrindo a felicidade das pequenas coisas. Alguma insaciabilidade e uma certa soberba perante o mundo e os outros pode dar lugar à humildade e à solidariedade. Não é uma pandemia que termina com a violência nem com problemas mais fundos da sociedade, como os conflitos em torno do racismo e do julgamento da história trouxeram à tona da vida.
São frequentes os apelos de Jesus a não termos medo. Afinal, ele é o maior obstáculo ao amor, que supõe confiança, e incita à entrega e à coragem. O medo fecha, o amor abre; o medo isola, o amor faz encontro; o medo antecipa o pior, o amor tem esperança; o medo é egoísta, o amor é confiante; o medo prende, o amor liberta; o medo mata, o amor dá vida. Dizia Clarice Lispector: “Agora preciso de tua mão, não para que eu não tenha medo, mas para que tu não tenhas medo. Sei que acreditar em tudo isso será, no começo, a tua grande solidão. Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor.”
De três medos previne Jesus os discípulos ao enviá-los em missão. O medo do fracasso, e que a violência dos homens reduza a nada o esforço em levar a boa notícia do amor de Deus. Jesus pede-lhes a coragem de O anunciar em todas as circunstâncias; afinal, o Reino germina a partir do que é frágil e cresce onde menos se espera. Só fracassa quem não tenta, e o cristão tem sempre diante si o risco de não ver germinar as sementes que lançou. Adverte-os para o medo dos maus tratos e da morte. Só a confiança na vida maior que Deus dá aos seus filhos é mais forte. E se o medo do sofrimento que pode atingir os que mais queremos também é real, Jesus lembra a fragilidade dos passarinhos e a caducidade dos cabelos para falar do cuidado e do carinho de Deus. Não promete que não irá acontecer nada, ou que fará milagres para evitar o que é difícil. Simplesmente diz que valemos mais do que muitos passarinhos. E com a nossa entrega e confiança, Ele fará o que for necessário. A última palavra é sempre de Deus e é uma palavra de vitória e vida plena.
Pe. Vitor Gonaçves
in Voz da Verdade
Pe. Vitor Gonçalves
Rádio Renancença
As leituras deste domingo põem em relevo a dificuldade em viver como discípulo, dando testemunho do projecto de Deus no mundo. Sugerem que a perseguição está sempre no horizonte do discípulo... Mas garantem também que a solicitude e o amor de Deus não abandonam o discípulo que dá testemunho da salvação.
- A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de um profeta do Antigo Testamento - Jeremias. É o paradigma do profeta sofredor, que experimenta a perseguição, a solidão, o abandono por causa da Palavra; no entanto, não deixa de confiar em Deus e de anunciar - com coerência e fidelidade - as propostas de Deus para os homens.
- No Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os avisa para a inevitabilidade das perseguições e das incompreensões; mas acrescenta: "não temais". Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo.
- Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projectos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto-suficiência gera morte.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho