11º Domingo do Tempo Comum - Ano A
“Depois chamou a Si os seus doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos impuros
e de curar todas as doenças e enfermidades.” Mt 10, 1
Há no acto de chamar alguém um certo sabor a criação. Como se do nada e do silêncio aquela voz fizesse surgisse algo novo. Não se trata apenas de dizer um nome mas de convocar uma pessoa. Não guardamos a memória dos primeiros tempos em que, por boas e menos boas razões, éramos convocados pela voz da mãe, do pai e de muitos outros? E por tantos outros momentos em que o nosso nome foi dito com o sabor de um sorteio da lotaria ou a ternura de uma vida que nos deseja?
Percorremos os textos da Bíblia e maravilhamo-nos com o Deus que chama. É criador chamando à vida e tudo faz com a sua palavra; convoca-nos para o diálogo e procura-nos quando fazemos o mal e nos escondemos; é íntimo de homens e mulheres que responsabiliza por todos; chama-nos porque nada quer fazer na criação sem nós. A sua omnipotência não é, sobretudo, a da força e do domínio, é a de amar, e todo o amor convoca à participação, ao gosto de “fazer juntos” à alegria de dizermos “nós” e não só “eu”. Imagino as vezes que Maria e José chamaram: “Jesus”, e Ele a acorrer aos seus apelos. Encantam-me aqueles que, assim nos contam os evangelhos, O chamaram, do cego de Jericó ao “bom” ladrão da cruz. Mas revejo-me ainda mais naqueles que Jesus chamou pelo nome e a alguns até o mudou: Pedro, Zaqueu, Marta e Maria, Lázaro. Todo o nome na boca de Jesus tem a força de uma recriação.
Não é por acaso, que no diálogo com os pais que pedem o baptismo para um filho seu, começa-se por perguntar o seu nome. O nome é uma identidade, um imenso universo de qualidades únicas e possibilidades extraordinárias. É uma porta, para algo maior do que a simples junção de letras e sons. Deus, que nos conhece para lá de qualquer nome, está sempre a chamar-nos. Não no sentido pobre com que se diz na liturgia das exéquias: “Deus chamou a Si o nosso irmão…, a nossa irmã…”. Pois, quantas vezes fica a impressão que alguém expressava assim: “Chamou, mas não devia ter ainda chamado, porque nos faz muita falta!” O que nos falta é entender cada dia como chamamento à vida mais plena que só em Deus encontra foz.
Que maravilha seria perceber o chamamento de Deus como a resposta àquele que Lhe fazemos, com tantos outros nomes. A sede da Boa notícia, da libertação do mal, da cura e da felicidade ao alcance do coração. Não resisto ao poema de Sophia: “Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio / E suportar é o tempo mais comprido. // Peço-Te que venhas e me dês a liberdade, / Que um só dos teus olhares me purifique e acabe. // Há muitas coisas que eu quero ver. // Peço-Te que sejas o presente. / Peço-Te que inundes tudo. / E que o teu reino antes do tempo venha. / E se derrame sobre a Terra / Em primavera feroz precipitado.” É possível acreditar que o chamamento de Jesus, a investidura de apóstolos para todos os que O conhecem, a missão de graça a toda a parte, é também resposta ao apelo a Deus que a sede humana não pode calar?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
Pe. Vitor Gonçalves
"Olhar o Dia" - Rádio Renascença
Neste domingo, a Palavra que vamos reflectir recorda-nos a presença constante de Deus no mundo e a vontade que Ele tem de oferecer aos homens, a cada passo, a sua vida e a sua salvação. No entanto, a intervenção de Deus na história humana concretiza-se através daqueles que Ele chama e envia, para serem sinais vivos do seu amor e testemunhas da sua bondade.
- A primeira leitura apresenta-nos o Deus da "aliança", que elege um Povo para com ele estabelecer laços de comunhão e de familiaridade; a esse Povo, Jahwéh confia uma missão sacerdotal: Israel deve ser o Povo reservado para o serviço de Jahwéh, isto é, para ser um sinal de Deus no meio das outras nações.
- O Evangelho traz-nos o "discurso da missão". Nele, Mateus apresenta uma catequese sobre a escolha, o chamamento e o envio de "doze" discípulos (que representam a totalidade do Povo de Deus) a anunciar o "Reino". Esses "doze" serão os continuadores da missão de Jesus e deverão levar a proposta de salvação e de libertação que Deus fez aos homens em Jesus, a toda a terra.
- A segunda leitura sugere que a comunidade dos discípulos é fundamentalmente uma comunidade de pessoas a quem Deus ama. A sua missão no mundo é dar testemunho do amor de Deus pelos homens - um amor eterno, inquebrável, gratuito e absolutamente único.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho