10º Domingo do Tempo Comum - Ano C
"Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe: «Não chores»”. Lc 7, 12
“Não chores!”
Os evangelhos apresentam-nos três ressurreições que Jesus realizou. Uma criança, a filha de Jairo, chefe de uma sinagoga; um jovem, o único filho da viúva de Naim, que hoje nos é narrada; e Lázaro, o irmão de Marta e de Maria, a família de irmãos de Betânia onde Jesus gostava de ficar. Em todas se descreve a comoção de Jesus e pressentimos a sua comunhão na dor dos que sofrem. É o Deus cheio de compaixão que Jesus revela, sempre do lado da vida, a libertar, a perdoar, a abraçar, a comprometer na luta pela justiça. Porque veio para que tenhamos vida.
Estar vivo apela a uma atenção constante ao que é mais essencial, a não desperdiçar o tempo sem contemplar o que é belo, e sem fazer o maior bem possível. É estar aberto ao lado luminoso de tudo o que existe, ainda que haja dias menos bons e muitos males no mundo. É acreditar que não temos a solução de tudo, mas quando nos abrimos a Deus e aos outros, vamos dando uma mãozinha para que o bem triunfe. É desenvolver todas as capacidades que temos e que os outros têm, sem guardar para um futuro longíquo os sonhos que crescem connosco, e nunca desistir de ainda dar, um dia, uma volta ao mundo. É descobrir que tudo é mais feliz quando se partilha e coopera, quando a morte deixa de ser um fim mas o momento máximo de uma vida dada!
“Não chores” podia ser um verdadeiro “slogan” da nova evangelização. Não como uma promessa vazia ou um convite a fugir do sofrimento, mas como atitude de verdadeira compaixão por quem sofre, como Jesus fez em toda a sua vida terrena. Não como numa “solução” para os problemas mas como uma presença que transforma a solidão da dor na comunhão da esperança. Como se pode acreditar n’Ele sem viver a mesma misericórdia diante da dor humana, a mesma paixão por cuidar da vida, a mesma entrega em ressuscitar e salvar?
Dizia o filósofo Gabriel Marcel: “Amar alguém é dizer-lhe: Tu não morrerás jamais!” É esse o centro da mensagem e da vida de Jesus. É amando e cuidando desta vida que sabemos passageira, é enchendo-nos de compaixão e agindo no que é possível em favor de quem sofre, aqui e agora, que a ressurreição irrompe já na história. Viver não é aprender a morrer, mas tudo fazer para viver bem! Esse é o grande programa pastoral que a Igreja sempre terá. Ser cheia de compaixão como o Mestre, enfrentar o sofrimento e a morte com palavras e atitudes de vida abundante, assumir a fragilidade e a confiança de quem ama o Senhor e sabe que Ele abraça todos. A compaixão é a condição necessária para que todas as estruturas humanas não esqueçam que estão ao serviço de todas as pessoas, e que Deus quer enxugar as lágrimas de todas as faces!
in Voz da Verdade 09.06.2013