8º Domingo do Tempo Comum - Ano C

27-02-2022 08:20

"A boca fala do que transborda do coração." Lc 6, 45

 

Quando ainda não ultrapassámos um dos maiores desafios da humanidade neste primeiro quartel do século 21, que é a pandemia da Covid-19, já tememos o eclodir de uma guerra em solo europeu, onde existe paz há mais de 70 anos. Bem dizia o velho Joaquim: “Os homens quando não têm problemas grandes arranjam-nos!” Confiantes de que a pandemia nos tinha trazido uma dose suplementar de fraternidade e compromisso pela vida (mesmo sabendo que nunca “estivemos no mesmo barco”), é doloroso reconhecer que somos especialistas em criar sofrimentos evitáveis. E toca-nos especialmente porque é bem mais perto do que as “numerosas guerras” que grassam pelo mundo! 

Sérgio Godinho canta numa das suas canções: “…entre o ser e o parecer / Entre ser e o parecer não escolhas o espelho errado / Dos de vidro prateado...”. “Ser ou parecer” lembra-nos as pessoas muito preocupadas em aperfeiçoar a sua aparência para dar uma melhor imagem, tentando que ninguém dê pelo engano. E não caem nisso apenas políticos e outras figuras públicas: também nós nos sentimos tentados a fazê-lo. Mais preocupados em melhorar exteriormente e aparentar ser boas pessoas, não nos esforçamos em melhorar por dentro para oferecer o melhor de nós mesmos. Na exterioridade de uma guerra que pode destruir vidas e bens, que interesses ocultos se movem? 

Jesus conhece a natureza humana, facilmente tentada pelas aparências. Não adianta fingir que se ama, que se acredita, que se confia. Mais cedo ou mais tarde a verdade “vem ao de cima, como o azeite”. Em pequenas parábolas adverte os discípulos para a autenticidade de vida: cego é aquele que se considera dono da verdade, acima dos outros, e se julga mais perfeito que o seu mestre; é também aquele que facilmente vê os defeitos do outro e os aponta, esquecendo-se dos seus e de amadurecer interiormente; as boas árvores dão bons frutos, que não precisam de “maquilhagem” para parecer bonitos. É contra a hipocrisia, essa arte da representação, de parecer aquilo que não se é, que Jesus convida à sabedoria do coração, revelada nas palavras e obras de cada pessoa. 

Cultivar o bom tesouro dentro de cada um é condição para deixar de viver de aparências. Se as palavras revelam a abundância do coração serão elas a interrogar-nos sobre as nossas escolhas. Fingir pode produzir algumas alegrias, mas serão sempre pequenas e passageiras. E impedem o reconhecimento da beleza e da grandeza, únicas e irrepetíveis de cada um, que só Deus bem conhece. Ele que bem tenta dar-nos a paz, para deixarmos de guerrear entre o que somos e o que tentamos parecer!  E não é bom acreditar que o seu conhecer-nos é amar-nos como somos?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

O tema central da liturgia deste domingo convida-nos a refletir sobre esta questão: aquilo que nos enche o coração e que nós testemunhamos é a verdade de Jesus, ou são os nossos interesses e os nossos critérios egoístas?

  • O Evangelho dá-nos os critérios para discernir o verdadeiro do falso “mestre”: o verdadeiro “mestre” é aquele que apenas apresenta a proposta de Jesus gerando, com o seu testemunho, comunhão, união, fraternidade, amor; o falso “mestre”, ao contrário, é aquele que manifesta intolerância, hipocrisia, autoritarismo e cujo testemunho gera divisões e confusões: o seu anúncio não tem nada a ver com o de Jesus.
  • A primeira leitura, na mesma linha, dá um conselho muito prático, mas muito útil: não julguemos as pessoas pela primeira impressão ou por atitudes mais ou menos teatrais: deixemo-las falar, pois as palavras revelam a verdade ou a mentira que há em cada coração.
  • A segunda leitura não tem, aparentemente, muito a ver com esta temática: é a conclusão da catequese de Paulo aos coríntios sobre a ressurreição. No entanto, podemos dizer que viver e testemunhar com verdade, sinceridade e coerência a proposta de Jesus é o caminho necessário para essa vida plena que Deus nos reserva. Do nosso anúncio sincero de Jesus, nasce essa comunidade de Homens Novos que é anúncio do tempo escatológico e da vida que nos espera.

 

Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org

 

Rádio Renascença

Pe. Vitor Gonçalves