5º Domingo de Páscoa - Ano A
“Quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará obras ainda maiores,
porque Eu vou para o Pai.” Jo 14, 12
Jesus Cristo não deixou manuais de pastoral nem compêndios de teologia. Não demitiu a humanidade da capacidade de pensar, de escolher. Confiou na grandeza de coração dos Apóstolos e na criatividade do Espírito Santo. E não foram fáceis os caminhos, nem o são ainda hoje. É preciso constantemente rever as opções tomadas, aprender com os erros, e não considerar como acabada uma obra que está em permanente construção.
Foi à medida que os problemas se foram colocando que se procurou dar respostas para eles. Das heresias à necessidade de diálogo com o mundo encontramos no passado e no presente misérias e grandezas desta procura em ser fiel à Boa Nova. A “invenção” dos diáconos foi um gesto espantoso de descoberta: aquilo que pode ser feito por muitos não deve ser feito por poucos! Se o valor da participação é fundamental na experiência cristã, então é preciso entendermos que todos somos agentes de evangelização pela dimensão baptismal. Porque o Espírito Santo não se manifesta apenas em alguns; Ele é Dom para todos!
Noutros momentos aconteceu a ousadia e coragem de abrir caminhos onde muitos erguiam muros e destruíam pontes. De mentalidades e costumes, de rotinas e comodismo. O Evangelho é factor de libertação e de compromisso comum pela humanidade. Ultrapassando preconceitos e sectarismos, unindo forças e criando laços. Em muitos momentos sinto a falta desta coragem em mim e em muitos com quem caminho. Gastamos demasiado tempo “à defesa”, mais na repetição ou no saudosismo, do que na alegria de inventar e de recriar. Não é corte com o passado, mas é atracção pelo futuro. Olhos levantados, e não cabisbaixos. O Senhor que nos chama vai à frente, e parece que nos habituámos a travar mesmo nas subidas, ou temos a alavanca das mudanças sempre em “segunda”!
É certo que ninguém é dono da verdade. Ela vai-se vislumbrando pelo acolhimento, pelo diálogo (que supõe pontos de vista diferentes), pela partilha sincera, pela confiança mútua, pela coragem de avançar com propostas que conduzam a uma maior autenticidade de tudo o que vivemos. Não sei se são estas as “coisas maiores” que Jesus dizia podermos fazer. Sei que tudo será maior e mais belo se amarmos e procuramos, deixando de estar agarrados a “coisas mortas”, a situações que condenam definitivamente as pessoas. Se o Espírito liberta, quem somos nós para aprisionar?
Ainda bem que o Senhor não nos deixou outra “cartilha” senão o Evangelho. É nele que temos sempre de aprender que as coisas maiores que Jesus fez, aconteceram a partir do coração das pessoas. Vinham de dentro. Porque Ele as libertava e as comprometia com um projecto maior. Não é isso que procuramos?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo convida-nos a reflectir sobre a Igreja - a comunidade que nasce de Jesus e cujos membros continuam o "caminho" de Jesus, dando testemunho do projecto de Deus no mundo, na entrega a Deus e no amor aos homens.
- O Evangelho define a Igreja: é a comunidade dos discípulos que seguem o "caminho" de Jesus - "caminho" de obediência ao Pai e de dom da vida aos irmãos. Os que acolhem esta proposta e aceitam viver nesta dinâmica tornam-se Homens Novos, que possuem a vida em plenitude e que integram a família de Deus - a família do Pai, do Filho e do Espírito.
- A primeira leitura apresenta-nos alguns traços que caracterizam a "família de Deus" (Igreja): é uma comunidade santa, embora formada por homens pecadores; é uma comunidade estruturada hierarquicamente, mas onde o serviço da autoridade é exercido no diálogo com os irmãos; é uma comunidade de servidores, que recebem dons de Deus e que põem esses dons ao serviço dos irmãos; e é uma comunidade animada pelo Espírito, que vive do Espírito e que recebe do Espírito a força de ser testemunha de Jesus na história.
- A segunda leitura também se refere à Igreja: chama-lhe "templo espiritual", do qual Cristo é a "pedra angular" e os cristãos "pedras vivas". Essa Igreja é formada por um "povo sacerdotal", cuja missão é oferecer a Deus o verdadeiro culto: uma vida vivida na obediência aos planos do Pai e no amor incondicional aos irmãos.