5º Domingo da Quaresma - Ano A
“Lázaro, sai para fora!” Jo 11, 43
São muitos os momentos em que me encontro, como Jesus, diante da morte. Da morte de pessoas desconhecidas, mas também de conhecidos e amigos ou de jovens e crianças que, por tanto amarmos a vida, ainda dói mais. Sei quanto custam as palavras, mas também quanto é importante o anúncio da esperança cristã. Sem evitar a dureza da dor e até as lágrimas.
Jesus também chorou e João não o quis esconder de nós. Quantos nos revemos nestas lágrimas! Se o Senhor chorou também as minhas lágrimas têm valor! Mas Jesus não ficou no choro. Como sempre, diante do mal, enfrenta-o para libertar quem está dele prisioneiro. Assim o fez com a samaritana ao libertá-la do pecado e da exclusão; assim também com o cego ao libertá-lo das trevas e da lei religiosa que escravizava; o mesmo fez com Lázaro ao libertá-lo da morte e das suas faixas!
Mais do que procurar as culpas, do que explicar as coisas, Jesus vive em atitude de libertação, de salvação. E não é esse o sentido primeiro de “ressurreição”? Comprometido com a humanidade, mesmo quando “já cheira mal” (evocando a decomposição do corpo) Jesus realiza a “nova criação” como que por antecipação. Ela vai acontecer com a sua morte e ressurreição, de que Lázaro é anúncio. E a pequena comunidade de Betânia é também imagem da Igreja que é enviada a “ressuscitar” o que estava morto!
Há dias ouvi uma história com graça sobre a diferença entre “estar envolvido” e “comprometer-se”: “Numa omelete com presunto houve quem ‘se envolveu’ e quem ‘ficou comprometido’: a galinha só se ‘envolveu’, isto é, deu os ovos; o porco ‘comprometeu-se’, isto é, não há presunto sem se matar o porco!” É tão curioso como nos podemos perguntar se, na nossa vida, andamos “envolvidos” ou “comprometidos”. Até que ponto “passamos” pelas coisas ou “entramos” nelas? Porque, se “todo o mundo é composto de mudança”, como descreveu Luís de Camões, as mudanças essenciais só acontecem quando feitas por dentro, por quem está comprometido, isto é, por quem “tem uma missão com os outros”!
A ressurreição começa a acontecer quando me assumo comprometido. E descubro que o Pai se comprometeu primeiro e, por isso, nunca estou só. As faixas da morte têm vários nomes: egoísmo, orgulho, vaidade, isolamento, ganância, sede de poder. Escutar a voz de Cristo: “Sai para fora!” é confiar no seu amor e na sua força, é querer viver em cheio! Uma vida que não é só ressuscitada, mas também ressuscitadora! É este o sinal quando encontramos Cristo!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte.
- Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.
- O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser "amigo" de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.
- A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem "segundo o Espírito".