5º Domingo do Tempo Comum - Ano C
"Quando (Jesus) acabou de falar, disse a Simão:
«Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca»." Lucas 5, 4
Se perguntarmos a quantos já visitaram a Terra Santa que lugares mais os impressionaram, certamente muitos incluirão a viagem de barco no mar da Galileia. Não é pela beleza da paisagem, nem pela comodidade do barco, mas é quase impossível não viajarmos no tempo e sentimo-nos com Jesus e os apóstolos a puxar as redes cheias de peixes ou a experimentar a tempestade acalmada. Quase apetece pôr os pés de fora e andar também, como Pedro, sobre as águas!
Em 1986 foi descoberto no leito do mar da Galileia, perto de Cafarnaum, os restos arqueológicos de um barco do século primeiro. Logo o apelidaram de “barco de Jesus”, mas nenhuma prova sustenta esse título senão a datação por Carbono 14 indicar da data aproximada. Mede cerca de 8 metros de comprimento e 2,3 metros de largura, teria uma vela quadrada e quatro remos, o que indicia uma tripulação de 4 remadores e um timoneiro. O certo é que a imaginação é fértil e apetece ver Jesus sentado a ensinar, a pedir para lançar as redes, a dormir com a cabeça numa almofada, a mandar calar o vento e serenar o mar, e também os apóstolos entusiasmados com a abundância de peixes ou temerosos com as vagas e o vento.
O chamamento dos primeiros discípulos acontece nas margens deste mar. Eram pescadores, e Pedro representa-os na abertura à palavra de Jesus, na humildade de reconhecer a sua pequenez, na ousadia de deixar barco e redes e aprender o que significa ser “pescador de homens”. Mesmo que que os mares sejam as estradas e cidades do mundo, há algo de “barca” que vai caracterizar a Igreja que anuncia a Boa Nova de Cristo. Antes de mais, a dimensão comunitária, a reunião de irmãos, a riqueza dos dons de todos, impelidos pelo vento do Espírito. A experiência de sucessos e insucessos, de tempestades e calmarias, sobretudo quando deixarem de se guiar pela palavra de Deus.
Há muito de realidade sinodal da Igreja na imagem da barca de Pedro, em que se descobre o projecto, o plano e o sonho de Deus para cada um de nós. Na escuta e no diálogo com Deus e com os outros, na descoberta dos medos e quedas e da confiança que Deus também tem em nós, a nossa vida abarca horizontes maiores, que não descobriríamos sozinhos. A vocação é sempre única e pessoal, fruto do encontro com o “Pescador de todos os mares” que nos conhece e ama, e deseja o melhor para nós. E as nossas fraquezas e pecados não são obstáculo ao seu chamamento; quantas vezes se tornam rampas de lançamento para confiar e agir, mais seguros na sua Palavra do que nos nossos dons e capacidades!
O cristão não é um navegador solitário; vive e ama o mar com outros na barca de Cristo!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo leva-nos a reflectir sobre a nossa vocação: somos todos chamados por Deus e d’Ele recebemos uma missão para o mundo.
- Na primeira leitura, encontramos a descrição plástica do chamamento de um profeta – Isaías. De uma forma simples e questionadora, apresenta-se o modelo de um homem que é sensível aos apelos de Deus e que tem a coragem de aceitar ser enviado.
- No Evangelho, Lucas apresenta um grupo de discípulos que partilharam a barca com Jesus, que acolheram as propostas de Jesus, que souberam reconhecê-l’O como seu “Senhor”, que aceitaram o convite para ser “pescadores de homens” e que deixaram tudo para seguir Jesus… Neste quadro, reconhecemos o caminho que os cristãos são chamados a percorrer.
- A segunda leitura propõe-nos reflectir sobre a ressurreição: trata-se de uma realidade que deve dar forma à vida do discípulo e levá-lo a enfrentar sem medo as forças da injustiça e da morte. Com a sua acção libertadora – que continua a acção de Jesus e que renova os homens e o mundo – o discípulo sabe que está a dar testemunho da ressurreição de Cristo.