4º Domingo de Tempo Comum - Ano C
"Jessus, passando pelo meio deles, seguiu o seucaminho". Lucas 4, 30
“Quanto mais importante, mais difícil”, costuma dizer um amigo meu. E não se trata de alguém que tenha uma visão sofredora da vida, antes pelo contrário; não foge, e anima os que pode, diante dos obstáculos que é preciso enfrentar. Educar para a facilidade ou para a sorte tem consequências desastrosas. Acaba por não revelar as extraordinárias capacidades das pessoas, bem como a grandeza de pedir ajuda, de envolver outros naquilo que diz respeito a muitos, de aprender com os erros. Nenhum profeta tem vida fácil, precisamente porque aponta mais longe e mais alto, como mais alto e maior é o ideal, a palavra, e a realidade que o convoca para a missão.
Jesus ia-se dando mal com os seus conterrâneos. Habituados ao conhecimento que julgavam ter, irritados por Ele não ceder ao pedido de alguns milagres espectaculares para o elevarem a herói local, escandalizados por escutarem palavras de uma salvação universal, decidem rapidamente eliminá-lo. É muito curiosa a sua religião (como a de todos que nos julgamos donos da verdade e não seus buscadores): o que nos incomoda, o que não faz a nossa vontade, o que aponta os nossos defeitos, o que convida a ver mais longe, tem de ser suprimido! Parece que faz parte da nomeação de todos os profetas: o caminho é pelo meio das dificuldades! Não se esperem palmas, adulações, reverências e palmadinhas nas costas: esses são os sinais do falso profetismo, daquele que vive ao sabor do vento e das conveniências.
Impressionar-se-iam os habitantes de Nazaré se tivessem precipitado Jesus da colina? Ou seria mais uma peça que “não cabia no puzzle” e, por isso, apenas mereceria uma nota de rodapé nos comentários da praça pública? Algum tempo mais tarde outros O elevarão numa cruz. E alguns continuarão a pedir um milagre para acreditarem! Triste religião dos milagres, quando não entendemos (ou não queremos entender) o milagre da conversão, quando fazemos “caridadezinha” e esbanjamos e delapidamos fortunas em pechisbeque e ostentação, quando fazemos de Deus um 112 para as horas difíceis, quando tratamos com Deus “tu cá, tu lá” e nos especializamos na arte de “cortar” na vida de uns e outros, quando...!
A confiança do profeta não está nas suas forças ou capacidades, mas na força de quem o chama e envia. Abraça a causa maior do bem e da libertação de todos, porque sabe a verdade do amor maior que a morte. E isso é o mais importante!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
O tema da liturgia deste domingo convida a reflectir sobre o “caminho do profeta”: caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de esperança, porque é um caminho onde Deus está. A liturgia de hoje assegura ao “profeta” que a última palavra será sempre de Deus: “não temas, porque Eu estou contigo para te salvar”.
- A primeira leitura apresenta a figura do profeta Jeremias. Escolhido, consagrado e constituído profeta por Jahwéh, Jeremias vai arrostar com todo o tipo de dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão e de tornar uma realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus.
- O Evangelho apresenta-nos o profeta Jesus, desprezado pelos habitantes de Nazaré (eles esperavam um Messias espectacular e não entenderam a proposta profética de Jesus). O episódio anuncia a rejeição de Jesus pelos judeus e o anúncio da Boa Nova a todos os que estiverem dispostos a acolhê-la – sejam pagãos ou judeus.
- A segunda leitura parece um tanto desenquadrada desta temática: fala do amor – o amor desinteressado e gratuito – apresentando-o como a essência da vida cristã. Pode, no entanto, ser entendido como um aviso ao “profeta” no sentido de se deixar guiar pelo amor e nunca pelo próprio interesse… Só assim a sua missão fará sentido.