32º Domingo do Tempo Comum - Ano B
"Ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha,
tudo o que possuía para viver." Mc 12, 44
É curiosa a relação entre o “muito” e o “pouco”. Muitas palavras são sinal, por vezes, de poucos gestos concretos; muitas ideias, pouco trabalho; “muita parra, pouca uva” como dizem os sábios do povo. Quando passamos o olhar pela história da salvação, de Deus com o povo de Israel e com a Igreja, constatamos isso mesmo. Não foi com a abundância, com o muito (material ou espiritual) que muito se fez. Quase sempre foi ao contrário: quando o pouco é tudo, então faz-se muito. É o fim da farinha e do azeite, são os cinco pães e os dois peixes, e as duas pequenas moedas da viúva de hoje, que são verdadeiramente o muito. Esta é a força transformadora da pobreza e da pequenez: a gratuidade e a generosidade é que são multiplicadoras!
Já foram instaladas as luzes de Natal, a mais de dois meses antes da data. Vai ser a azáfama das “prendas”, o desejo de muito ter, para muito gastar, e muito dar. Quase sempre é uma época descentrada do grande presente de Deus: Jesus envolto em panos. Até Deus se faz “pouco” para não ficarmos atordoados com o “muito” que Ele nos quer. Mas dá-se todo para nós! Na verdade, a questão não está no muito ou no pouco, mas no “tudo” que a dádiva deve conter. É essa a verdadeira alegria: não dar simplesmente o que sobeja, mas o que também me faz falta. Porque isso implica uma relação de confiança em Alguém e não simplesmente naquilo que se tem. A força da dádiva está no seu conteúdo.
Jesus aponta a viúva como um testemunho da mudança que acontece no coração das pessoas. Colocar a radical confiança em Deus torna-a imagem de Jesus Cristo, que se deu todo ao Pai e a nós. O seu gesto tem mais força do que as esmolas “gordas” daqueles que voltaram para casa nos seus “porsches ou mercedes”. Deram do que lhes sobejava. Não se deram a si mesmos: só essa dádiva transforma a vida. Também os fariseus e escribas davam esmolas, mas diante de todos para serem bem vistos. E continuavam azedos e infelizes. Parece que o que não damos azeda!
Ninguém lamente não ter muito para muito partilhar. É o pouco de cada um, quando é tudo, que é verdadeiramente importante. Jesus abre-nos para o dinamismo do dom, da gratuidade, da entrega. Darmo-nos, mais até do que dar coisas, é expressão da confiança fundamental em Deus. E condição para experimentar a riqueza que nenhuma bolsa pode contabilizar. Na relação com Deus e com os outros, a questão não é sobre o muito ou o pouco que damos, mas se nos damos em totalidade! E até a proposta do Papa Francisco, a prepararmos o Sínodo dos Bispos de 2023, em torno do tema da “sinodalidade”, que significa “caminhar juntos”, interpela-nos se estamos dispostos a dar “tudo” de nós, ao que Espírito Santo queira inspirar. Bem, talvez um pouco mais, quem sabe, “das duas moedas, dar talvez uma”…! Tudo mesmo… se calhar é muito!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum fala-nos do verdadeiro culto, do culto que devemos prestar a Deus. A Deus não interessam grandes manifestações religiosas ou ritos externos mais ou menos sumptuosos, mas uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projectos, de acolhimento generoso dos seus desafios, de generosidade para doarmos a nossa vida em benefício dos nossos irmãos.
- A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de uma mulher pobre de Sarepta, que, apesar da sua pobreza e necessidade, está disponível para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. A história dessa viúva que reparte com o profeta os poucos alimentos que tem, garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
- O Evangelho diz, através do exemplo de outra mulher pobre, de outra viúva, qual é o verdadeiro culto que Deus quer dos seus filhos: que eles sejam capazes de Lhe oferecer tudo, numa completa doação, numa pobreza humilde e generosa (que é sempre fecunda), num despojamento de si que brota de um amor sem limites e sem condições. Só os pobres, isto é, aqueles que não têm o coração cheio de si próprios, são capazes de oferecer a Deus o culto verdadeiro que Ele espera.
- A segunda leitura oferece-nos o exemplo de Cristo, o sumo-sacerdote que entregou a sua vida em favor dos homens. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse projecto de salvação que Ele tem para os homens e para o mundo.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org
Pe. Vitor Gonçalves
in Rádio Renascença