2º Domingo da Quaresma- Ano A

05-03-2023 08:38

 

“Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas.»” Mt 17, 4

 

 

A tensão entre o “já” e o “ainda não” fazem parte integrante do caminho da fé. Já vivemos da Páscoa da ressurreição, mas ainda é preciso fazer o percurso da cruz. Já saboreamos a graça de Deus em tantos momentos, mas ainda somos autores de tantas desgraças quotidianas. Já sabemos de cor o mandamento novo, mas continuamos tão agarrados às leis velhas. Parece que todo o avanço é um pouco assim: “dois passos em frente e um para trás”!

Jesus vai com alguns discípulos ao alto do monte e fá-los dar um imenso pulo para diante. Confrontados com os testemunhos de Moisés e Elias, aqueles homens espantados pensam que é já ali o céu. Estão dispostos a montar três tendas para ali ficarem. Mas Jesus baralha-lhes os planos: é preciso descer ao quotidiano, continuar a missão com o confronto e os desafios de cada dia. Esse é o lugar dos discípulos de Cristo: onde o homem se encontra! Porque Deus vem ao encontro do homem na sua própria história.

Não é difícil cairmos nos extremos do espiritualismo ou do materialismo. O primeiro que vive numa tentação de levitar, pairando sobre a existência, num movimento de fuga das vivências humanas com as suas misérias e grandezas, encontrando um consolo e refúgio em experiências espirituais ambíguas e mais ou menos alienantes. O segundo que vive numa absorção do imediato, vivendo numa ânsia de vencer o tempo e criando compromissos constantes em ordem à transformação do mundo e das mentalidades, sem nenhuma referência ao transcendente, num movimento sem rumo visível. Porque são extremos, quase se tocam e acabam por não saciar o coração humano! Só pelo diálogo e pela coragem de encontrar pontos de união é possível ultrapassar as dicotomias. Jesus com os discípulos exercitou essa amizade que pode consolidar relações fecundas capazes de crescer e fazer crescer.

Creio que é Jesus Cristo quem melhor responde à nossa procura: nesta união de Deus e do Homem há um movimento de subida e descida do monte. Como o do bater do coração que faz picos e vales no quadriculado de um electrocardiograma. Há um dinamismo ascendente em que valorizamos sempre o que de melhor há no homem, na vida e no mundo. E outro, descendente, em que experimentamos a fragilidade, a importância dos outros, a aprendizagem com os erros, e a humildade de nos deixarmos ajudar.  Por isso, o passo em que se vem atrás não é completo desperdício; também pode ser trampolim. Pode tornar o caminho lento, mas não estamos a fazer uma “prova de 100 metros”; estamos numa corrida de fundo como a maratona!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

No segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projectos, da obediência total e radical aos planos do Pai.

  • O Evangelho relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projecto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós também.
  • Na primeira leitura apresenta-se a figura de Abraão. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que sabe ler os seus sinais, que aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a obediência total e com a entrega confiada. Nesta perspectiva, ele é o modelo do crente que percebe o projecto de Deus e o segue de todo o coração.
  • Na segunda leitura, há um apelo aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma verdadeira, empenhada e coerente, as testemunhas do projecto de Deus no mundo. Nada - muito menos o medo, o comodismo e a instalação - pode distrair o discípulo dessa responsabilidade.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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