28º Domingo do Tempo Comum - Ano C

09-10-2022 08:04

“Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?" Lc 17, 18

 

Sempre me impressionou a história, contada por um cardeal belga, daquele homem que, tendo vivido rodeado de cristãos, um dia, quando se converteu, chorou de alegria pela maravilha da fé, e de tristeza porque os cristãos seus vizinhos nunca lhe tinham mostrado quão belo é acreditar em Deus. Talvez sofressem um pouco da “ingratidão” dos nove leprosos do evangelho de hoje. Tantas são as graças recebidas que, a certa altura, até o coração parece ficar indiferente. Ou vamos julgando que somos nós quem produz os milagres!

Tem sido espantosa a vitória da Medicina sobre a lepra. Saber que é possível salvar um leproso com cuidados médicos e higiénicos atempados, alegra-nos. Quanto à outra, aquela que contagia os corações para a indiferença, a intolerância e a ingratidão, sendo mais difícil a sua cura, também o remédio todos o sabemos: viver de coração aberto. Aberto ao novo, à diferença, à pluralidade, aos “samaritanos”! Essas pessoas inesperadas em que os gestos autênticos de fé e caridade interpelam a rotina e o vazio de tantos gestos religiosos. E começa a notar-se pelo agradecer. Quem sabe agradecer, e não apenas retribuir (como poderia retribuir ao próprio Deus quanto Ele me dá?) multiplica a alegria: é a sua, e a que gera no outro!

Mas até a gratidão parece gasta. Como se ela fosse um “pagar” o que se recebeu! E há quem viva a medir favores dados e recebidos numa contabilidade asfixiante da verdadeira gratidão. Também a eucaristia sofre, por vezes, deste utilitarismo! Da “missa pelo meu familiar que eu já paguei”, à “missa daquele padre simpático que fala tão bem”, que se faz da verdadeira acção de graças que ela é? Como nos unimos à acção de graças universal, que Cristo abraça e toma em suas mãos para oferecer ao Pai? Como nos oferecemos também nós se procuramos mais receber? A graça de Deus desce ao coração do pobre, àquele que lhe deu o todo de si e, por isso, está capaz de receber Deus!

Quem vive agradecido tem um olhar novo sobre a vida. Sabe de onde lhe vêm os dons e as surpresas. É capaz de voltar atrás para louvar a Deus. Tem um rosto e uns olhos que parecem iluminados porque é capaz de ver luz onde outros vêem escuridão. Libertou-se do “caruncho” da ingratidão!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projecto de salvação para oferecer a todos os homens, sem excepção; reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.

  • A primeira leitura apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem excepções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-l'O como o único salvador e manifestar-Lhe gratidão.
  • O Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.
  • A segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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Rádio Renascença
Pe. Vitor Gonçalves