26º Domingo do Tempo Comum - Ano B
"Ninguém pode fazer um milagre em meu nome
e depois dizer mal de Mim." Mc 9,39
Há quem não goste de surpresas. Aceita-se! Há quem não goste de reconhecer o bem e a beleza que outros criam. É pena! Há quem queira ter a exclusividade dos carismas, da verdade e até de milagres. É estupidez e dureza de coração! O encanto da vida comporta a abertura às surpresas, o reconhecimento do valor de todos, e a humildade de não nos julgarmos “donos” de nada. Pois assim é que se vive segundo o Espírito que, como o vento, sopra onde, quando e como quer!
É grande a tentação humana de estabelecer fronteiras, erguer muros, garantir exclusividades. “Nós” e “os outros”, “os que acreditam” e “os que não acreditam”, “os que sabem” e “os ignorantes”, os que têm e podem” e “os que não têm e não podem”. Em todos os campos da relação humana e no campo religioso também. Onde é fácil nascerem os fanáticos, que agridem quem não pensa como eles e fecham os olhos ao bem que outros fazem. Que azar para os especialistas destas distinções logo Jesus alegrar-se sempre que a fé e o amor saltam as fronteiras de qualquer grupo. Deus é livre e pode suscitar o bem, o amor, a paz e alegria em qualquer parte. É um Deus de comunhão e não de exclusão. Com Jesus, o outro, o estrangeiro, não é uma ameaça, mas uma oportunidade!
“Rumo a um nós cada vez maior” é o tema da mensagem do Papa Francisco para o 107.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado que se assinala neste Domingo. Não podemos ignorar o seu apelo: “Devemos todos empenhar-nos por derrubar os muros que nos separam e construir pontes que favoreçam a cultura do encontro, cientes da profunda interconexão que existe entre nós. Nesta perspetiva, as migrações contemporâneas oferecem-nos a oportunidade de superar os nossos medos para nos deixarmos enriquecer pela diversidade do dom de cada um. Então, se quisermos, poderemos transformar as fronteiras em lugares privilegiados de encontro, onde possa florescer o milagre de um nós cada vez maior.”
Ninguém pode criar fronteiras ao Espírito de Deus. Quem quer que actue em favor da dignidade da vida humana, no serviço dos mais pobres e desamparados, na criação e promoção da beleza em todas as artes e ofícios, no progresso do conhecimento e da ciência, no desenvolvimento e na justa distribuição da riqueza no mundo, no cuidado pela casa comum e em todos os campos da existência humana onde o Espírito Santo gosta de nos surpreender e comprometer, actua em nome de Deus. Se o fanatismo, a intransigência, a soberba, promovem a exclusão e a morte, recordemos o que disse S. Ireneu: “A glória de Deus é o homem vivo”!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar, de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a acção do Espírito de Deus através de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.
- A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta.
- No Evangelho temos uma instrução, através da qual Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos; convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.
- A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos eleitos de Deus.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho