25º Domingo do Tempo Comum - Ano B
"Quem quiser ser o primeiro
será o último de todos e o servo de todos" Mc 9,35
Poderíamos olhar para a multifacetada realidade dos nossos dias, verdadeiro caminho que percorremos em conjunto, sob a interpeladora pergunta de Jesus aos discípulos do evangelho de hoje: “Que discutíeis no caminho?” No âmbito político, em vésperas de eleições autárquicas, qual o verdadeiro conteúdo de programas e discussões de candidatos e apoiantes? Que preocupações movem quem deseja angariar votos para se tornar servidor do bem comum, e quem vota, delegando poder e responsabilidade? Será simplesmente também “querer ser o maior”? No âmbito social, entre as boas notícias do controle da pandemia e as expectativas de crescimento económico com a “bazuca” de subsídios europeus, qual o verdadeiro conteúdo das discussões e preocupações? Também haverá quem queira “ser o maior”? No começo de um novo ano escolar, desejando o fim de confinamentos, nas aspirações da comunidade educativa de pais, professores, alunos e auxiliares, o que verdadeiramente discutimos e queremos alcançar? E nas comunidades cristãs e em Igreja, qual seria a nossa reacção se Jesus se aproximasse e perguntasse o que discutimos, ou o que nos preocupa? Talvez a de alguns entre nós fosse como a dos discípulos, não por sermos maus ou egoístas, mas porque ainda não descobrimos completamente quem é Jesus Cristo.
As três vezes que Jesus anuncia a sua paixão, morte e ressurreição levam os discípulos ao silêncio e ao medo de perguntar. Jesus incita ao diálogo, não para controlar a liberdade dos discípulos, mas porque as palavras revelam o íntimo de cada um. O embaraço dos discípulos testemunha a distância entre o ensino de Jesus e as suas preocupações. Percebem que não estão ao nível. Jesus não se enerva, nem os infantiliza, mas toma-os a sério. Sabe que pede aos seus discípulos uma profundidade difícil de atingir, e que o caminho é longo. Colocando uma criança no meio deles, responde com doçura e abre-os a uma outra visão do mundo e da hierarquia. Ser último e servo de todos é ser o primeiro.
O quê, ou quem colocamos no meio das nossas preocupações? E das discussões que procuram melhorar a vida e o mundo? O meio é o lugar central, o lugar mais importante. A criança representa aqueles que, habitualmente, nada contam ou contam pouco para a sociedade: é dependente, nada produz, só gasta, arranja facilmente sarilhos e desastres, não pensa como adulto. De qualquer idade ou condição simboliza também os que erraram, os que as doenças físicas ou mentais aprisionam, os que sentem que já ninguém precisa deles, os que são explorados e excluídos, os que se habituaram a outras dependências. É ao jeito de Jesus que é preciso acolher quem Ele deseja que coloquemos no meio das nossas discussões, das nossas preocupações, da nossa vida!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 25º Domingo do Comum convida os crentes a prescindir da "sabedoria do mundo" e a escolher a "sabedoria de Deus". Só a "sabedoria de Deus" - dizem os textos bíblicos deste domingo - possibilitará ao homem o acesso à vida plena, à felicidade sem fim.
- O Evangelho apresenta-nos uma história de confronto entre a "sabedoria de Deus" e a "sabedoria do mundo". Jesus, imbuído da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projecto do Pai e a fazer da sua vida um dom de amor aos homens; os discípulos, imbuídos da lógica do mundo, não têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com esse projecto. Jesus avisa-os, contudo, de que só há lugar na comunidade cristã para quem escuta os desafios de Deus e aceita fazer da vida um serviço aos irmãos, particularmente aos humildes, aos pequenos, aos pobres.
- A segunda leitura exorta os crentes a viverem de acordo com a "sabedoria de Deus", pois só ela pode conduzir o homem ao encontro da vida plena. Ao contrário, uma vida conduzida segundo os critérios da "sabedoria do mundo" irá gerar violência, divisões, conflitos, infelicidade, morte.
- A primeira leitura avisa os crentes de que escolher a "sabedoria de Deus" provocará o ódio do mundo. Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem a "sabedoria de Deus": a perseguição é a consequência natural da sua coerência de vida.
PadreVitor Gonçalves
Rádio Renascença