24º Domingo do Tempo Comum - Ano C
“Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,porque este teu irmão estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado.” Lc 15, 32
Quantos de nós associamos a fé cristã à alegria? E como enche ela a nossa relação com Deus e com os outros? São significativos alguns momentos na história “recente” da Igreja em que a alegria é convocada. Na sessão de abertura do Concílio Vaticano II, a 11 de outubro de 1962, o Papa João XXIII exclamou: “Alegra-se a Santa Mãe Igreja”; um dos documentos mais importante desse Concílio intitulou-se “Gaudium et spes” (“As alegrias e as esperanças”); dez anos depois, no ano santo de 1975, o Papa Paulo VI escreveu o único documento papal dedicado à alegria, a Exortação Apostólica “Gaudete in Domino” (“Alegrai-vos no Senhor”); até chegarmos a 2013 e recebermos a Exortação Apostólica do Papa Francisco “Evangelii Gaudium” (“A alegria do Evangelho”). Em 51 anos, quatro fortes apelos à alegria. E o que fazemos dela?
O capítulo 15 do evangelho de S. Lucas é conhecido pelas “três” parábolas de Jesus sobre a misericórdia. Não será antes “uma” parábola em três andamentos, como numa sinfonia? Um pastor e uma ovelha perdida (e noventa e nove “bem comportadinhas”), uma mulher e uma moeda perdida (e nove bem quietinhas), e um pai com dois filhos (ambos “perdidos”, e ambos chamados a entrar na festa do pai). É aos fariseus e aos escribas que Jesus dirige esta narrativa; e também ao que em cada um de nós existe desse espírito. A alegria e a festa são o grande desejo de Deus, mas só nela entramos se quisermos. E querer entrar nela é aceitar e alegrarmo-nos com os irmãos. Interpela-nos como ambos os filhos falam ao pai e o escutam, mas não se falam entre si. Será assim também connosco?
“Creio que foi o sorriso, / o sorriso foi quem abriu a porta. / Era um sorriso com muita luz / lá dentro, apetecia / entrar nele, tirar a roupa, ficar / nu dentro daquele sorriso. / Correr, navegar, morrer naquele sorriso.” Ajuda-me este poema de Eugénio de Andrade a ilustrar a imagem do Papa João Paulo I, beatificado no Domingo passado, em Roma, pelo Papa Francisco. E lembro como me maravilharam as cartas que, enquanto Patriarca de Veneza, Albino Luciani escreveu mensalmente, a personagens históricas e míticas de vários tempos e lugares, no “Messagero di S. Antonio”, de 1972 a 1975. Devorei-as, literalmente, naquele verão de 1982, poucas semanas antes de entrar no seminário. Era, até então, o “Papa dos 33 dias” e passou a ser o “meu Papa da alegria”!
Na celebração de Domingo passado, o Papa Francisco disse: “Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, que não é bravia nem impaciente, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado, caindo no 'retrocedismo'.”
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo centra a nossa reflexão na lógica do amor de Deus. Sugere que Deus ama o homem, infinita e incondicionalmente; e que nem o pecado nos afasta desse amor...
- A primeira leitura apresenta-nos a atitude misericordiosa de Jahwéh face à infidelidade do Povo. Neste episódio - situado no Sinai, no espaço geográfico da aliança - Deus assume uma atitude que se vai repetir vezes sem conta ao longo da história da salvação: deixa que o amor se sobreponha à vontade de punir o pecador.
- Na segunda leitura, Paulo recorda algo que nunca deixou de o espantar: o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Esse amor derrama-se incondicionalmente sobre os pecadores, transforma-os e torna-os pessoas novas. Paulo é um exemplo concreto dessa lógica de Deus; por isso, não deixará de testemunhar o amor de Deus e de Lhe agradecer.
- O Evangelho apresenta-nos o Deus que ama todos os homens e que, de forma especial, Se preocupa com os pecadores, com os excluídos, com os marginalizados. A parábola do "filho pródigo", em especial, apresenta Deus como um pai que espera ansiosamente o regresso do filho rebelde, que o abraça quando o avista, que o faz reentrar em sua casa e que faz uma grande festa para celebrar o reencontro.