24º Domingo do Tempo Comum - Ano B

12-09-2021 08:17

"(Jesus) começou a ensinar-lhes

que o Filho do homem tinha de sofrer muito" Mc 8, 31

 

O título do artigo era interpelativo: “Positividade tóxica: ‘Não há tempo para o amigo triste’”. E começava assim: “O mundo perfeito onde só há felicidade e toda a gente é saudável, equilibrada e passa férias em locais paradisíacos com os filhos, giríssimos, que nunca fazem birras, existe e está ao alcance do seu polegar.” O artigo de Rui Gustavo no Expresso de 27 de agosto dava conta do perigo de se propagar nas redes sociais a ideia de que “a felicidade é o único sentimento admissível”, conduzindo a uma repressão e ocultação de emoções naturais como a tristeza, a ansiedade, o medo. A realidade ilusória propagada aumenta a comparação social que “é uma fonte de mal-estar psicológico”, refere Teresa Espassandim, psicóloga, acrescentando: “Nas redes sociais toda a gente pode publicar. É mais fácil a identificação. São iguais a mim e estão melhores do que eu.” 

O encontro com as contrariedades e os sofrimentos é natural; a vida “não é um mar de rosas”, e “mesmo as rosas têm espinhos”, já ouvimos dizer. Crescer é enfrentar dificuldades, experimentar sentimentos, que não são positivos ou negativos (pois o que fazemos com eles depois de os assumir é que é significativo), abrirmo-nos à ajuda de outros, e descobrir que a fé não é “varinha de condão” que afasta o difícil mas convida a viver tudo com Jesus Cristo, “Deus connosco”. 

A pergunta que Jesus fez aos discípulos “quem dizeis que Eu sou?” é única em toda a Escritura. É feita a meio do evangelho e obtém de Pedro uma resposta de 20 valores. Na teoria, claro, pois o silêncio que Jesus lhes impôs irá revelar que a imagem de Messias que tinham não é a realidade que Jesus veio assumir. A ideia de que o Reino de Deus sobre a terra havia de impor-se pela força, pelos prodígios e sinais que iriam convencer todos da grandeza e do poder de Jesus não é o caminho de amor e serviço do seu messianismo. Eles sabiam “a fórmula de fé”, mas tinham uma imagem distorcida de Deus e do seu projecto de salvação. Anunciando-lhes o sofrimento, a rejeição, e a morte Jesus desmoronou as ideias de sucesso, triunfo e “felicidade fácil”. Nem prestaram atenção ao anúncio de ressurreição! O amor e o serviço, a vida que se dá para que se multiplique implica descentrarmo-nos, deixarmos de pensar unicamente em nós, tomar a cruz, o sinal “mais” do amor total, e seguir Jesus, isto é partilhar a sua escolha. O que sentiram os discípulos? Desilusão? Sim. Medo? Certamente. Surpresa? Claro. Mas seguiram Jesus, e, mesmo com todo o drama da paixão, da negação de Pedro, do medo e da fuga, aprenderam a dar a vida como Ele! 

Fica-me uma pergunta: “quem digo que sou eu?” ao “publicar” constantemente na janela de um écran as imagens que, presumivelmente, me revelam? E “quem sou eu?” ao “ver” o que outros publicam, numa dependência que quase me impede de ter tempo para a minha vida? São extremas as situações e interpelam-me primeiramente a mim próprio. Não são maléficas as redes sociais, mas será saudável a dependência delas? Somos muito mais do que qualquer imagem possa transmitir! 

Pe. Vitor Gonçalves 

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum diz-nos que o caminho da realização plena do homem passa pela obediência aos projectos de Deus e pelo dom total da vida aos irmãos. Ao contrário do que o mundo pensa, esse caminho não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira, à realização plena do homem.

  • A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar a Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a tortura, a morte. Contudo, o profeta está consciente de que a sua vida não foi um fracasso: quem confia no Senhor e procura viver na fidelidade ao seu projecto, triunfará sobre a perseguição e a morte. Os primeiros cristãos viram neste "servo de Jahwéh" a figura de Jesus.
  • No Evangelho, Jesus é apresentado como o Messias libertador, enviado ao mundo pelo Pai para oferecer aos homens o caminho da salvação e da vida plena. Cumprindo o plano do Pai, Jesus mostra aos discípulos que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar percorrer um caminho semelhante.
  • A segunda leitura lembra aos crentes que o seguimento de Jesus não se concretiza com belas palavras ou com teorias muito bem elaboradas, mas com gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, de solidariedade para com os irmãos.

Grupo Dinamizador:

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.org

 

 

Pe. Vitor Gonçalves

Rádio Renascença