2º Domingo do Tempo Comum - Ano C
"Tu guardaste o vinho bom até agora" Jo 2, 11
Não sei onde li, ou se escutei de alguém, mas concordo plenamente: “A vida é demasiado curta para se beber maus vinhos!”. E num país com tão bons vinhos como o nosso, faz ainda mais sentido. E quem fala de vinhos pode falar de muitas outras coisas, experiências, realidades a que damos importância sem verdadeiramente a merecerem. Facilmente confundimos a qualidade com a quantidade, a exterioridade com o que é interior, o invisível com o que os nossos olhos alcançam, os saldos com o verdadeiro valor, e acabamos por ficar a perder. Quem já bebeu muita “zurrapa”, como saberá distinguir o que é bom daquilo que não é?
O primeiro milagre de Jesus segundo S. João acontece numas bodas. Quantas vezes os profetas e as escrituras tinham comparado o amor de Deus pelo povo de Israel ao amor de um esposo pela esposa? Com que linguagem humana mais bela poderiam descrever a ternura e a festa que Deus quer fazer com a humanidade? No relato de Caná pouco se fala do casal, pois o verdadeiro esposo é Jesus, que transforma a água das purificações (da religião maniqueísta de “puros” e “impuros”, legalista e triste) no vinho bom (equivalente ao sangue que é vida dada em abundância, festa de comunhão e alegria) oferecido abundantemente a todos. A tristeza do vinho que se tinha acabado dá lugar à alegria do vinho bom e novo que pode ser saboreado.
Em Caná e junto à cruz é onde encontramos a Mãe de Jesus em todo o evangelho de S. João. Só em Caná é que ouvimos as suas palavras: “Não têm vinho”, e “Fazei o que Ele vos disser”. A hora de que Jesus fala é como que adiantada pelo pedido da Mãe. A hora da cruz, onde culmina toda a vida cheia de vinho bom de palavras, curas, perdão, ressurreição, vida plena de esperança e de amor que é semeado abundantemente no coração de todos. E ecoará na vida dos discípulos de Jesus, especialmente quando falta o vinho da alegria e da esperança, o mesmo pedido de sua Mãe aos criados das bodas: “Fazei o que Ele vos disser”!
O vinho bom é também o vinho novo. E as páginas seguintes do evangelho de João estão cheias da novidade que Jesus traz: o seu corpo como templo novo; a necessidade de “nascer de novo”; o “culto novo” praticado em espírito e verdade, explicado à samaritana; e todos os milagres como sinais da vida nova que começa em Cristo. É essa novidade que é apelo à nossa vida em Cristo: sabem a “vinho bom” as palavras que dizemos, os gestos que realizamos, as escolhas que fazemos? Que novidade celebramos e com que alegria a oferecemos?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia de hoje apresenta a imagem do casamento como imagem que exprime de forma privilegiada a relação de amor que Deus (o marido) estabeleceu com o seu Povo (a esposa). A questão fundamental é, portanto, a revelação do amor de Deus.
- A primeira leitura define o amor de Deus como um amor inquebrável e eterno, que continuamente renova a relação e transforma a esposa, sejam quais forem as suas falhas passadas. Nesse amor nunca desmentido, reside a alegria de Deus.
- O Evangelho apresenta, no contexto de um casamento (cenário da “aliança”), um “sinal” que aponta para o essencial do “programa” de Jesus: apresentar aos homens o Pai que os ama, e que com o seu amor os convoca para a alegria e a felicidade plenas.
- A segunda leitura fala dos “carismas” – dons, através dos quais continua a manifestar-se o amor de Deus. Como sinais do amor de Deus, eles destinam-se ao bem de todos; não podem servir para uso exclusivo de alguns, mas têm de ser postos ao serviço de todos com simplicidade. É essencial que na comunidade cristã se manifeste, apesar da diversidade de membros e de carismas, o amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Grupo Dinamizador:
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Rádio Renascença
Pe. Vitor Gonçalves