2º Domingo de Páscoa - Ano C
"Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditarem sem terem visto". Jo 20, 29
Obrigado, S. Tomé, pela tua incredulidade! Em tempos onde tantos ainda se deixam envolver por “malhas” de falsas verdades, de “acreditar no que se vê ou no que se imagina ver”, e do aproveitamento sem escrúpulos da fragilidade de outros, que bem sabe escutar as tuas dúvidas. Aqueles “se não vir... e se não meter o dedo... e a mão…” dão vigor à nossa fé. E obtêm-nos a última bem-aventurança de Jesus: “Felizes os que acreditam sem terem visto”! Os que acreditam em Jesus e na sua ressurreição e não aqueles que acreditam em toda e qualquer “explicação” manipuladora de sentimentos e frustrações. Infelizes os que se deixam influenciar por curandeiros, médiuns, espíritas, e tantos outros “charlatões” do sagrado e do religioso. A fé cristã nada tem a ver com isto!
Conheço o sorriso de muitas pessoas quando escutam as dúvidas de S. Tomé. Sentem até que o entendem muito bem! Já não estão no simplismo do “ver para crer”, mas caminham numa fé que não é isenta de dúvidas. Uma fé que se interroga e procura, uma fé que tem altos e baixos, não vacilando quando o amor a chama. É assim como uma construção, não de um arranha-céus ou de um castelo, mas de uma casa térrea onde as portas e janelas estão abertas e há sardinheiras floridas penduradas no peitoril, ou então como uma tenda que é uma casa de levar connosco, onde se têm longas conversas com os amigos! Uma fé que se espanta!
Acreditar não é fácil. Supõe sempre um salto de confiança, um golpe de asa que, por momentos, parece deixar-nos a pairar sobre o abismo. É um acto de coragem que mexe com todas as dimensões do ser humano. E, porque somos pessoas, não podemos crescer sem acreditar. Acreditar nos dons que temos e no sonho enraizado de sermos felizes. Também acreditar em pessoas concretas, por quem somos capazes de dar a vida e “pôr as mãos no fogo”. E acreditar em Deus, não é esse grande risco que mexe com a vida toda?
Em Jesus Cristo descobrimos como Deus vem ao encontro de cada homem e mulher na sua história e naquilo que espera. Assim fez com Maria Madalena junto ao túmulo, com a samaritana junto ao poço, e também com Tomé. É a qualidade do seu encontro que nos faz disponíveis a outra coisa para além de provas. E isso ensina-nos a necessidade de entrar sempre na história do outro e dos seus anseios. Acreditar no outro antes de querer que seja ele a acreditar em nós. Não será isso o que Jesus começar por fazer connosco?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo põe em relevo o papel da comunidade cristã como espaço privilegiado de encontro com Jesus ressuscitado.
- O Evangelho sublinha a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está vivo.
- A segunda leitura insiste no motivo da centralidade de Jesus como referência fundamental da comunidade cristã: apresenta-O a caminhar lado a lado com a sua Igreja nos caminhos da história e sugere que é n’Ele que a comunidade encontra a força para caminhar e para vencer as forças que se opõem à vida nova de Deus.
- A primeira leitura sugere que a comunidade cristã continua no mundo a missão salvadora e libertadora de Jesus; e quando ela é capaz de o fazer, está a dar testemunho desse Cristo vivo que continua a apresentar uma proposta de redenção para os homens.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho