17º Domingo do Tempo Comum - AnoB
“Jesus disse a Filipe: «Onde havemos de comprar pão
para lhes dar de comer?»” Mc 6, 5
Comprar e vender caracteriza muitas das trocas de bens entre as pessoas. Khalil Gibran, o poeta cristão libanês, fala disso no seu livro “O Profeta”: “A terra brinda-vos com os seus frutos / e, se souberdes como encher as mãos, / não passareis necessidades. // É trocando os bens da terra / que achareis a abundância / e ficareis satisfeitos. // Contudo, / a não ser que o intercâmbio / se faça com amor / e justiça benévola, / não deixará de levar / uns à voracidade / e outros à fome. […] E antes de abandonardes o mercado / tende cuidado / que ninguém volte de mãos vazias. // Porque o espírito, /senhor da terra, / nem conseguirá / dormir tranquilamente sobre o vento / até que as necessidades / do mais pequeno de vós / não tenham sido satisfeitas.”
Mas nem tudo se pode comprar ou vender. Lembramos como a raposa dizia ao Principezinho que não existem “mercados de amigos” e, assim, habituados a comprar tudo, os homens não têm amigos! Os bens mais essenciais, aqueles que dão sentido ao viver humano e não apenas sobrevivência, não são objecto de compra ou venda. Poderia aqui fazer uma lista desses “bens mais essenciais”, mas deixo aos leitores esse exercício de férias: talvez se surpreendam e, quem sabe, revejam as prioridades de vida.
O verbo “comprar” aparece numerosas vezes nos evangelhos, mas é estranho na boca de Jesus. Ele que declina em todos os tempos e modos o verbo “dar”, e “dá-Se” a si mesmo, que quer dizer com esta proposta de “solução rápida” apresentada a Filipe? Certamente, mostrar que não é uma solução, e preparar o milagre que vai fazer com a partilha do pouco. Quantas vezes nos enganamos com a esperança do “ter muito” para fazer grandes coisas, com a ilusão da riqueza que só aprisiona em “condomínios” de luxo, de poder e de estrelato? Não se resolve o drama da fome com “caridadezinhas” espectaculares mas com educação, desenvolvimento e partilha. Nesse e noutros dramas, como o desta pandemia da Covid-19, é preciso contar com os “cinco pães e dois peixes” do rapazito do evangelho, o contributo de todos, por mais insignificante que seja, como disse o director-geral da OMS: “Podemos derrotar a Covid-19, mas apenas se todos fizerem a sua parte. Que a Olimpíada de Tóquio 2020 seja uma fonte de esperança e unidade para alcançarmos igualdade de vacina e encerrarmos a pandemia.”
Jesus revoluciona os nossos conceitos de posse, de abundância e lucro, de respeito pelo insignificante e pelas sobras. Primeiro estão as pessoas e as suas necessidades: é preciso vencer os egoísmos e ganâncias para entrar na realidade dos outros. Em seguida, é preciso valorizar o pouco e a generosidade, pois, como pedimos o pão de cada dia, é com ele que o milagre é possível. Por fim, é urgente combater o desperdício com a partilha; diz S. Paulo aos Coríntios: “A quem tinha colhido muito não sobrou e a quem tinha colhido pouco não faltou.” (2 Cor 8, 15). Mas quem vive só de comprar e vender descobrirá a alegria profunda de dar?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 17º domingo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a "fome" de vida dos homens. De forma especial, as leituras deste domingo dizem-nos que Deus conta connosco para repartir o seu "pão" com todos aqueles que têm "fome" de amor, de liberdade, de justiça, de paz, de esperança.
- Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a "fome" do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os "profetas" são convidados a realizar.
- O Evangelho repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da "fome" da multidão que O segue e propõe-Se libertá-la da sua situação de miséria e necessidade. Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo.
- Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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Pe. Vitor Gonçalves
in Rádio Renascença