16º Domingo do Tempo Comum - Ano B
"Jesus viu uma grande multidão e cmpadeceu-Se de toda aquela gente,
porque eram como ovelhas sem pastor" Mc 6, 33
É significativa a capa da revista “Visão” que apresenta três dos maiores multimilionários do mundo, Jeff Bezos, Elon Musk e Richard Branson, cada um montado num foguetão a viajar pelo espaço, quais crianças grandes num livro de banda desenhada. A reportagem é directa: o fascínio destes senhores “pelo cosmos parece ter diminuído o seu interesse por melhorar a vida no planeta Terra.” Pois “não é apenas a paixão pelo cosmos que os une. Também partilham a aversão ao pagamento de impostos ou à melhoria das condições de vida dos seus trabalhadores”, escrevem os jornalistas Rui Antunes e Vânia Maia. Será que ver a terra a partir do espaço os ajudará a descobrir as suas responsabilidades para com as injustiças e desigualdades, que podiam ajudar a mudar ou servirá apenas para imagens em 4k para guardar?
Quando a Bíblia fala de pastores é fácil ficarmos na imaginação dos guardadores de ovelhinhas, doces ruminantes de ervas pelo campo, muitas vezes julgados como “pobres coitados que não serviam para mais nada.” Mas o simbolismo do “pastor” toca todas as dimensões humanas de cuidado e responsabilidade por outros: do rei ao sacerdote, dos pais aos empresários, dos educadores aos treinadores, e das mais variadas relações humanas. Ser amigo não é também ser pastor? E não começamos por ser pastores da vida, do tempo e dos dons de cada um de nós? Como se saboreia este “pastoreio” dos outros na entrevista ao médico e investigador Manuel Sobrinho Simões, num dos programas “Primeira Pessoa”, de Fátima Campos Ferreira, disponível na RTP Play! Dizia Saint-Exupéry: “Tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas”. Faço o paralelo entre a visão da terra dos “milionários astronautas” e Jesus a ver as multidões. A beleza única do primeiro e a realidade de compaixão do segundo. O olhar emocionante de quem assiste à distância, mas não se compromete a melhorar o mundo, e o olhar que leva a sentir os dramas pessoais, a escutar os problemas, a dialogar e a ensinar paciente e carinhosamente o que pode levar à mudança. Um que dura 45 minutos, 4 dos quais em gravidade zero; outro que se estende pela vida inteira e ensina cada pessoa a fazer céu à sua volta. A administração da riqueza, de toda a espécie de riqueza, é um acto de pastoreio. Aí também se distinguem os bons dos maus pastores. Daí a actualidade da nota mais recente da Comissão Nacional Justiça e Paz onde se sustenta que o combate à pobreza deve ser um desígnio “prioritário” na aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A sua leitura é um estímulo à responsabilidade de todos. No fundo, o ensino das “muitas coisas” com que Jesus traduz a sua compaixão revela que não é o muito dinheiro que ajuda a mudar o mundo, mas o amor à verdade e à justiça. Ou então, fiquemos na inveja de olhar a terra do céu, como os “milionários astronautas”!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum dá-nos conta do amor e da solicitude de Deus pelas "ovelhas sem pastor". Esse amor e essa solicitude traduzem-se, naturalmente, na oferta de vida nova e plena que Deus faz a todos os homens.
- Na primeira leitura, pela voz do profeta Jeremias, Jahwéh condena os pastores indignos que usam o "rebanho" para satisfazer os seus próprios projectos pessoais; e, paralelamente, Deus anuncia que vai, Ele próprio, tomar conta do seu "rebanho", assegurando-lhe a fecundidade e a vida em abundância, a paz, a tranquilidade e a salvação.
- O Evangelho recorda-nos que a proposta salvadora e libertadora de Deus para os homens, apresentada em Jesus, é agora continuada pelos discípulos. Os discípulos de Jesus são - como Jesus o foi - as testemunhas do amor, da bondade e da solicitude de Deus por esses homens e mulheres que caminham pelo mundo perdidos e sem rumo, "como ovelhas sem pastor". A missão dos discípulos tem, no entanto, de ter sempre Jesus como referência... Com frequência, os discípulos enviados ao mundo em missão devem vir ao encontro de Jesus, dialogar com Ele, escutar as suas propostas, elaborar com Ele os projectos de missão, confrontar o anúncio que apresentam com a Palavra de Jesus.
- Na segunda leitura, Paulo fala aos cristãos da cidade de Éfeso da solicitude de Deus pelo seu Povo. Essa solicitude manifestou-se na entrega de Cristo, que deu a todos os homens, sem excepção, a possibilidade de integrarem a família de Deus. Reunidos na família de Deus, os discípulos de Jesus são agora irmãos, unidos pelo amor. Tudo o que é barreira, divisão, inimizade, ficou definitivamente superado.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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Pe. Vitor Gonçalves
Rádio Renascença