15º Domingo do Tempo Comum - Ano C
“Ele disse: «O que usou de misericórdia para com ele»”. Lc 10, 37
Quem não conhece “bons samaritanos” como aquele de que Jesus fala na sua subversiva parábola? Afortunadamente, o mundo está cheio deles, e também hoje em dia, os protagonistas, não poucas vezes, nada têm a ver com a Igreja ou com os que nos declaramos seguidores de Jesus. O que é escandaloso é que muitos continuemos a comportar-nos como o sacerdote ou o levita (=sacristão do templo), passando do lado contrário do ferido, ou até, desprezando o samaritano. Os primeiros comungam de uma característica: são discretos, não dizem aos quatro ventos (nem publicam nas redes) o bem que fizeram, não precisam de aplausos nem reconhecimento.
Mais do que saber ou pensar muito, deixam-se tocar pelo sofrimento do outro, aproximam-se, e fazem o que podem. Vivem na própria carne o maior dos mandamentos. Saem da habitual comodidade, daquilo que acham ser justo e bom, de uma relação “suficiente” com Deus, e ousam a surpresa da fraternidade. Dão corpo ao sacramento da misericórdia, comovem-se interiormente e “movem-se” para quem sofre. São tantas vezes aqueles de quem menos se espera; às vezes “samaritanos” dentro da Igreja, porque não são “vip”, nem bons falantes, nem talvez “ortodoxos”, ou de “currículos” religiosos atribulados.
Lembremos que a estrada de Jerusalém para Jericó, aqueles 25 quilómetros a descer, era um caminho público, seco e desértico, em que também abundavam malfeitores. Verdadeiro símbolo dos caminhos habituais do mundo onde há risco de acidentes e violências, e a possibilidade de encontrar “meio-mortos” nas bermas é frequente. Certamente que há outros lugares e caminhos em que tal é mais raro, como documentava recentemente a “Sábado” referindo-se a lugares onde os clientes pedem “para os preços subirem mais porque estamos sempre cheios”. Bem como os caminhos de quem poderá ir às novas lojas que a marca Chanel pretende abrir, segundo informação da NIT, que “funcionam sob convite e são destinadas apenas aos ultra ricos, ou seja, a elite da elite.” Também aí haverá caídos à beira do caminho?
Há muitos “mundos” dentro do mundo. O fundamental é a “aproximação aos sofredores”: descobrir onde há pessoas feridas (quantas vezes tão perto!), as que se escondem, por vergonha, esquecimento, desvalorização. E encontrar métodos de cura para os feridos do corpo e da alma: como comunicar, que azeite e vinho usar, a que pousada levá-los, como custear a sua cura! Não é assim que nos “co-movemos” ao modo de Jesus - “Bom samaritano”?
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia deste domingo procura definir o caminho para encontrar a vida eterna. É no amor a Deus e aos outros – dizem os textos que nos são propostos – que encontramos a vida em plenitude.
- O Evangelho sugere que essa vida plena não está no cumprimento de determinados ritos, mas no amor (a Deus e aos irmãos). Como exemplo, apresenta-se a figura de um samaritano – um herege, um infiel, segundo os padrões judaicos, mas que é capaz de deixar tudo para estender a mão a um irmão caído na berma da estrada. “Vai e faz o mesmo” – diz Jesus a cada um dos que o querem seguir no caminho da vida plena.
- A primeira leitura reflecte, sobretudo, sobre a questão do amor a Deus. Convida os crentes a fazer de Deus o centro da sua vida e a amá-lo de todo o coração. Como? Escutando a sua voz no íntimo do coração e percorrendo o caminho dos seus mandamentos.
- Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um hino que propõe Cristo como a referência fundamental, como o centro à volta do qual se constrói a história e a vida de cada crente. O texto foge, um tanto, à temática geral das outras duas leituras; no entanto, a catequese sobre a centralidade de Cristo leva-nos a pensar na importância do que Ele nos diz no Evangelho de hoje. Se Cristo é o centro a partir do qual tudo se constrói, convém escutá-l’O atentamente e fazer do amor a Deus e aos outros uma exigência fundamental da nossa caminhada.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho