13º Domingo do Tempo Comum - Ano C
“[Jesus] tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém” Lc 9, 51
Quantas vezes imagino aqueles três anos de vida em comum que Jesus teve com os discípulos. O que conversavam, o que partilhavam, a alegria e a dor vividas, os projetos sonhados e as dúvidas surgidas, como seriam esses tempos de mútuo conhecimento? A verdadeira amizade cultiva-se com o tempo e o caminho, tal qual um segredo que só se revela a quem tem a coragem de estar presente, acompanhar, fazer caminho juntos. Foi assim que os doze foram conhecendo o Mestre e dando-se a conhecer a Ele. E é assim connosco.
Se a vida tem tanto de caminho e o próprio tempo vai esculpindo a obra de arte que somos e vamos fazendo, tanto mais a experiência cristã. Nos evangelhos, Jesus está sempre em movimento, e a impulsionar todos os que, por medo, erro, culpa, condenação ou preguiça se instalam numa vida menor. Mesmo quando se aquieta, com amigos, ou com os que simplesmente O escutam, as suas palavras põem em movimento as mentes e os corações, e começa a germinar algo novo nos desertos interiores. Seguir Jesus implica um desprendimento de muitas coisas: de entusiasmos irrealistas, de busca de glórias pessoais, de ficar preso ao passado. Assim nos são apresentados os três “candidatos” a discípulos no evangelho de hoje. O caminho para Jerusalém tem na sua meta o calvário, a vida do Filho de Deus, dada por amor até ao fim. Mesmo as acções meritórias de enterrar os mortos ou despedir-se da família não têm a força da novidade da boa nova que é para abraçar radicalmente.
Sabemos que para caminhar é preciso fazer escolhas. Muitas coisas boas têm de se deixar por uma melhor. Não há nenhum “sim” que não implique vários “nãos”. Assim, os 10 capítulos em que o evangelista Lucas descreve o caminho de Jesus para Jerusalém são um verdadeiro “manual do desprendimento”. Começando logo pela rejeição de Jesus e dos discípulos pelos samaritanos, é antecipada a rejeição que Jerusalém (e tantas outras “jerusaléns” ao longo dos tempos) fará ao projeto de vida nova que Ele traz. Mas o movimento do evangelho é como a “água” e, contornando obstáculos, encontra sempre caminhos para chegar onde alguém, inesperadamente e humildemente seja acolhido. Também isso é desprendimento das ilusões de sucesso e eficácia!
Por estes dias, são ordenados em várias dioceses (e também em Lisboa no próximo Domingo) diáconos e padres. Estes que também dizem que querem “seguir Jesus” numa doação total de serviço. São do mesmo barro humano que Deus pode ir esculpindo com as suas mãos grandes. Homens frágeis e sempre aprendizes. E serão tanto mais sinal e presença de Deus quanto mais humanos forem, quanto mais próximos de todos se fizerem, quanto mais grupos de discípulos ajudarem a nascer. Que os seus olhos e as suas mãos transmitam a paz e doçura que o Mestre tem para dar a todos. E o seu coração humano possa ir alargando até à medida do de Deus que “não tem medida”!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
A liturgia de hoje sugere que Deus conta connosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a esse chamamento com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do "Reino".
- A primeira leitura apresenta-nos um Deus que, para actuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu (discípulo de Elias) é o homem que escuta o chamamento de Deus, corta radicalmente com o passado e parte generosamente ao encontro dos projectos que Deus tem para ele.
- O Evangelho apresenta o "caminho do discípulo" como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e irrevogável ao "Reino". Sugere, também, que esse "caminho" deve ser percorrido no amor e na entrega, mas sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito absoluto pelas opções dos outros.
- A segunda leitura diz ao "discípulo" que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar dar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.