11º Domingo do Tempo Comum - Ano A
“Recebestes de graça, dai de graça.” Mt 10, 8
Como é possível esquecermos que o melhor da vida nos é dado de graça? A começar pelo dom mesmo de estar vivo, o respirar e os olhos abertos por onde nos entra o mundo, o coração que ama e a inteligência que lê e se maravilha. Se ao menos fôssemos espectadores da beleza do mundo e entrássemos na sua dança, onde a graça é a condição da vida que se recebe e dá com alegria! O que faz adormecer em nós a gratidão, essa virtude que nos abre a Deus e aos outros, e nos liberta do egoísmo e da pretensão de que tudo se compra e vende? Ah, se acolhêssemos a vida como o girassol se abre ao sol e oferecêssemos a todos a beleza que somos!
Tristemente gastamos tanta vida a comprar e vender coisas. Mas se o mais importante pertence à ordem do dom e da graça, que nenhum dinheiro do mundo pode comprar, não andaremos enganados? E confundimos tudo quando as relações, os sentimentos, os sonhos e as esperanças ficam contagiadas por uma “economia” que mata a gratuidade. Como se um vírus insidioso nos atrofiasse a alma e toda a dádiva tivesse que ter retorno, todo o presente implicasse uma retribuição, e o “toma lá, dá cá” fosse a lei dominante. Pode o amor exigir retribuição?
“Tudo é graça” é uma frase de S. Teresa do Menino Jesus que Bernanos colocou nos lábios do seu pároco de aldeia no “Diário”. Sem cair num naturalismo que nos demitiria da colaboração feliz com o projecto salvador de Deus, acolher e viver a graça é tarefa de toda a vida. E quanto mais a desgraça envolve o mundo e se difunde em dolorosas manifestações de egoísmo e ganância, de guerras, fomes, violências e injustiças, mais urgente é revelá-la e anunciá-la. Pois a graça precisa que cada pessoa a acolha e a ofereça. Ficamos mais pobres se não o fizermos. É do coração de Jesus, cheio de compaixão pela humanidade, que nasce o envio dos apóstolos. Para concretizar a graça em sinais de vida abundante, que Deus nos permite realizar. Sinais pequenos e discretos, cheios da beleza com que Deus tudo reveste, possíveis, sempre que somos agradecidos e generosos!
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
Neste domingo, a Palavra que vamos reflectir recorda-nos a presença constante de Deus no mundo e a vontade que Ele tem de oferecer aos homens, a cada passo, a sua vida e a sua salvação. No entanto, a intervenção de Deus na história humana concretiza-se através daqueles que Ele chama e envia, para serem sinais vivos do seu amor e testemunhas da sua bondade.
- A primeira leitura apresenta-nos o Deus da "aliança", que elege um Povo para com ele estabelecer laços de comunhão e de familiaridade; a esse Povo, Jahwéh confia uma missão sacerdotal: Israel deve ser o Povo reservado para o serviço de Jahwéh, isto é, para ser um sinal de Deus no meio das outras nações.
- O Evangelho traz-nos o "discurso da missão". Nele, Mateus apresenta uma catequese sobre a escolha, o chamamento e o envio de "doze" discípulos (que representam a totalidade do Povo de Deus) a anunciar o "Reino". Esses "doze" serão os continuadores da missão de Jesus e deverão levar a proposta de salvação e de libertação que Deus fez aos homens em Jesus, a toda a terra.
- A segunda leitura sugere que a comunidade dos discípulos é fundamentalmente uma comunidade de pessoas a quem Deus ama. A sua missão no mundo é dar testemunho do amor de Deus pelos homens - um amor eterno, inquebrável, gratuito e absolutamente único.