11º Domingo do Tempo Comum -Ano B

13-06-2021 08:17

"O reino de Deus é como um homem

que lançou a semente à terra." Mc 4, 26-34

 

Mesmo sem festas populares este domingo em Lisboa é dia de S. António. Serão próprias da sua festa as leituras nas missas da cidade, ainda que as deste domingo no resto do mundo nos lembrem a sua paixão pela palavra de Deus e a sua sementeira de pregador. Como foi possível em tão poucos anos, de 1222, na sua primeira pregação em Forli, ao dia da sua morte, a 13 de junho de 1231, ter-se tornado o pregador incansável que conhecemos? Eis uma passagem onde comenta o evangelho de hoje: “Ó pregador, lança à terra a tua semente da palavra; a tua, isto é, a que te foi confiada. E vê quão devidamente a palavra de Deus se diz semente. Assim como a semente deitada na terra germina e cresce – primeiramente, como diz o Senhor em S. Marcos, produz a erva, depois a espiga e por último o trigo maduro na espiga – também a palavra de Deus, semeada no coração do pecador. primeiro produz a erva da contrição, de que se lê no Génesis: Produza a terra, isto é, o espírito do pecador, a erva verde da contrição; depois a espiga da confissão, que se levanta ao alto pela esperança de se ver perdoado; por último o trigo maduro da satisfação.”

Encantados pelas festas (que este ano ainda não podemos retomar), pelos milagres que se lhe atribuem, pelos retratos populares e próximos que o reconhecem “santo de todos o mundo”, é pena ignorarmos a grandeza dos seus escritos, a audácia da sua vida e o testemunho da sua santidade. Bem gostaria também de o ver como patrono das JMJ de Lisboa 2023, assim como S. João de Brito, pois aqui nasceram. Mergulhar nos seus sermões é banharmo-nos na palavra de Deus e no incontável conhecimento das ciências do seu tempo com que ilustra as suas pregações. Em tudo encontrava semente para enriquecer o espírito e o conhecimento dos que o ouviam. 

Nada nasce sem ser semeado. E a semente que é a palavra de Deus tem uma força irresistível, capaz de transformar tudo a partir de dentro. Nesta admirável colaboração entre Deus e o homem, a vida desenvolve-se e frutifica. A pequenez e a humildade dos inícios não são obstáculo para a abundância das colheitas. Importa dar valor ao trabalho humano, mas no princípio de tudo está a vida abundante que Deus oferece. O dinamismo da vida de Deus em nós e connosco é de crescimento, mas também de contemplação e maravilhamento. Quando nos julgamos donos da vida, numa actividade incansável e febril, a produzir para acumular e enriquecer, a pensar só no que é grande e esplendoroso, afastamo-nos de Deus e produzimos infelicidade. Ainda somos capazes de nos maravilhar com o que é pequeno e frágil e tão cheio de vida? 

Sim, importa semear, com a humildade de agradecer as sementes. Com a paixão de S. António. E com a ousadia de Miguel Torga: “[…] todo o semeador / Semeia contra o presente. / Semeia como vidente / A seara do futuro, / Sem saber se o chão é duro / E lhe recebe a semente.” 

Pe. Vitor Gonçalves 

in Voz  da Verdade

 

A liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum convida-nos a olhar para a vida e para o mundo com confiança e esperança. Deus, fiel ao seu plano de salvação, continua, hoje como sempre, a conduzir a história humana para uma meta de vida plena e de felicidade sem fim. 

  • Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilónia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da história comportam, Israel deve continuar a confiar nesse Deus que é fiel e que não desistirá nunca de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.
  • O Evangelho apresenta uma catequese sobre o Reino de Deus - essa realidade nova que Jesus veio anunciar e propor. Trata-se de um projecto que, avaliado à luz da lógica humana, pode parecer condenado ao fracasso; mas ele encerra em si o dinamismo de Deus e acabará por chegar a todo o mundo e a todos os corações. Sem alarde, sem pressa, sem publicidade, a semente lançada por Jesus fará com que esta realidade velha que conhecemos vá, aos poucos, dando lugar ao novo céu e à nova terra que Deus quer oferecer a todos.
  • A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa actual caminhada pela história, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.

Grupo Dinamizador:

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt

 

Pe. Vitor Gonçalves

Rádio Renascença