XXXI Domingo do Tempo Comum - Ano C

03-11-2019 08:00

 

 

 

 

“Procurava ver quem era Jesus, mas, devido à multidão, não podia vê-l’O, porque era de pequena estatura.” Lc 19, 3

 

Como compreendo a situação do pobre Zaqueu! Esta injustiça de uns serem altos e outros nem por isso que nos faz fugir dos lugares de plateia ou dos assentos marcados no cinema, é uma sina delicada. Pois é precisamente aí, na fila em frente, que virá sentar-se alguém, dois palmos mais alto, a causar-nos torcicolos para ver o filme ou o espectáculo. Devia haver bilhetes por alturas! Encanta-me que, pelo desejo tão forte de ver Jesus, o “pequeno” Zaqueu não desanimou: fez-se “ainda mais pequeno”, e, como um gaiato, subiu a uma árvore!

A pequenez de Zaqueu não era só física: ele era pequeno aos olhos de todos pela profissão de cobrador de impostos que o colocava na categoria dos pecadores. E a altura da multidão pode também significar os muros que, nós, que dizemos acreditar em Jesus, colocamos à sua volta. No condomínio religioso que construímos, no acomodamento e inércia quando escutamos as suas palavras, na distância entre o que dizemos e aquilo que fazemos, na proximidade acomodada a Deus será que deixamos “ver que é Jesus”?

Certamente a multidão de Jericó estava simplesmente “a ver passar” o mestre que tanta fama granjeara. Talvez Ele fizesse algum milagre espectacular, e bem sabemos como as multidões vibram com isso. Muitos sentiriam por Ele a admiração pelas notícias da sua bondade, a curiosidade pelas palavras sábias simples pelas quais anunciava verdades sublimes. Mas todos se espantaram quando Jesus parou junto da árvore onde Zaqueu estava, e lhe anunciou que ia ficar em sua casa. Foi como se caísse “o Carmo e a Trindade”, na expressão tipicamente lisboeta para as desgraças! Não havia em Jericó casas de pessoas respeitáveis, de senhores e senhoras bons cumpridores da Lei e assentos reservados na Sinagoga, onde um mestre tão ilustre poderia alojar-se? Não entendia que o seu gesto era “religiosamente incorrecto”?

Mas Jesus quebrará sempre os protocolos que tentem impedir Deus de chegar a todos. E especialmente aos mais pequeninos, esquecidos, excluídos, explorados, descartados. Não veio Ele “procurar e salvar o que estava perdido”? Quando o amor de Deus chega a quem não O conhecia, o milagre da conversão acontece. Conseguimos imaginar a alegria com que Zaqueu desceu da árvore e recebeu Jesus? Podemos sonhar o que foi o diálogo entre os dois? O que conhecemos é a recriação da vida de Zaqueu. Essa realidade que multidões ou elites, de muitas espécies e feitios, dificilmente experimentamos porque, em vez de acolher Jesus, ainda O queremos colocar ao nosso serviço, a justificar muitos dos nossos comportamentos, a abençoar indiferenças e injustiças.

Ao concluir os trabalhos do Sínodo da Amazónia no sábado passado, o Papa Francisco, convidando a comunicação social a não ficarem presos aos “aspectos disciplinares” do documento final, alertava para um perigo: “Há sempre um grupo de cristãos elitistas que se entretém com questões disciplinares intraeclesiásticas”. E, a propósito citou o poeta Charles Péguy: “Porque não têm a coragem de estar com o mundo, acreditam estar com Deus. Porque não têm a coragem de comprometer-se nas opções de vida do homem, acreditam lutar por Deus. Porque não amam ninguém, acreditam que amam a Deus”. Não basta ficar a ver Jesus passar!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo convida-nos a contemplar o quadro do amor de Deus. Apresenta-nos um Deus que ama todos os seus filhos sem excluir ninguém, nem sequer os pecadores, os maus, os marginais, os "impuros"; e mostra como só o amor é transformador e revivificador.

  • Na primeira leitura um "sábio" de Israel explica a "moderação" com que Deus tratou os opressores egípcios. Essa moderação explica-se por uma lógica de amor: esse Deus omnipotente, que criou tudo, ama com amor de Pai cada ser que saiu das suas mãos - mesmo os opressores, mesmo os egípcios - porque todos são seus filhos.
  • O Evangelho apresenta a história de um homem pecador, marginalizado e desprezado pelos seus concidadãos, que se encontrou com Jesus e descobriu n'Ele o rosto do Deus que ama... Convidado a sentar-se à mesa do "Reino", esse homem egoísta e mau deixou-se transformar pelo amor de Deus e tornou-se um homem generoso, capaz de partilhar os seus bens e de se comover com a sorte dos pobres.
  • A segunda leitura faz referência ao amor de Deus, pondo em relevo o seu papel na salvação do homem (é d'Ele que parte o chamamento inicial à salvação; Ele acompanha com amor a caminhada diária do homem; Ele dá-lhe, no final da caminhada, a vida plena)... Além disso, avisa os crentes para que não se deixem manipular por fantasias de fanáticos que aparecem, por vezes, a perturbar o caminho normal do cristão.

Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

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