28º Domingo do Tempo Comum - Ano C

12-10-2013 18:38

 

"Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?” Lc 17, 18

 

A graça e a glória

 

Para se falar dos “de fora” é preciso que “os de dentro” tenham bem fechadas as portas! Mais uma vez Jesus apresenta como exemplo de fé e de gratidão um “estrangeiro”, alguém que não pertence ao grupo dos justos, pois os samaritanos eram considerados, por razões históricas, herejes pelos judeus. É a surpresa que “vem de fora”, como tantos homens e mulheres que, sem nenhuma referência religiosa ou cristã nos dão testemunhos maravilhosos de vida, bondade e beleza. Escritores e músicos, cineastas com as suas obras comovedoras e humanas, organizações e serviços não governamentais que trabalham em inúmeras causas nobres, pessoas carinhosas e dedicadas que fazem o bem sem nenhum “carimbo” religioso ou de fé. E às vezes é grande o contraste com estruturas de igrejas, frias e formalistas, hierarquias sempre à defesa, linguagem e normas distantes da vida real. Há um grande perigo de julgar que se ama a Deus porque, no fundo, não se ama a vida nem a beleza que nos rodeia, nem ninguém!

É precisamente de quem menos se espera e, tantas vezes, de onde menos se espera, que as surpresas de generosidade e gratidão aparecem. Toda a tentativa de rotular pessoas e comportamentos, criar preconceitos e “dar ouvidos”, sem avaliar com a própria inteligência e coração é terreno de areias movediças onde facilmente se afundam as certezas mais arrogantes. É bom não esquecer que Deus gosta de agir onde bem Lhe apraz, e quase diria que “gosta” de espantar os presumidos que se julgam “donos da virtude e da verdade”. Ninguém tem o monopólio das “graças de Deus”, nem tribunal nenhum pode decretar limites à sua misericórdia. É aos “samaritanos agradecidos pela vida” Jesus continua a dizer: “A tua fé te salvou”!

É curioso como é diferente “ficar curado” e “ser salvo”. Todos os leprosos ficaram curados no caminho que Jesus lhes indicou. Mas só um descobriu a salvação: o encontro feliz com Jesus Cristo. Podemos parecer-nos tanto com os outros nove: a viver a fé como um “seguro contra todos os riscos”, na ânsia de obter de Deus os favores egoístas para a nossa vida, a cumprir preceitos e ritos entre o “medo de ir parar ao inferno” se os não fizermos e a contabilidade de méritos “para apresentar no juízo final”. Dar graças é o melhor modo de dar glória a Deus! Jesus apresenta o agradecimento e a humildade como as atitudes para caminhar com Ele. Para nos alegrarmos com a vida e vencer a lepra da indiferença ou da auto-suficiência. Para cantar como fazia a Joan Baez: “Gracias a la vida que me há dado tanto!” Mas como daremos graças se sempre nos falta ainda mais alguma coisa? 

Pe. Vitor Gonçalves

 

 in Voz da Verdade 13.10.2013

 

 

A liturgia deste domingo mostra-nos, com exemplos concretos, como Deus tem um projecto de salvação para oferecer a todos os homens, sem excepção; reconhecer o dom de Deus, acolhê-lo com amor e gratidão, é a condição para vencer a alienação, o sofrimento, o afastamento de Deus e dos irmãos e chegar à vida plena.

  • A primeira leitura apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). O episódio revela que só Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação, sem limites nem excepções; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-l’O como o único salvador e manifestar-Lhe gratidão.
  • O Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e que através de Jesus descobrem a misericórdia e o amor de Deus. Eles representam toda a humanidade, envolvida pela miséria e pelo sofrimento, sobre quem Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua salvação. Também aqui se chama a atenção para a resposta do homem ao dom de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem reconhecer o dom, acolhê-lo e manifestar a Deus a sua gratidão.
  • A segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.

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