XVII Domingo do Tempo Comum - Ano B

29-07-2018 07:23

 

 

 

 

 

“Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta  gente?” Jo 6, 9

 

Continuamos a não perceber o jeito de Deus agir e fazer milagres. Gostamos de esperar, sentados ou de joelhos, que Deus faça e nós vejamos a sua omnipotência resolver aquilo que desejaríamos não fosse tarefa nossa. Calamos o seu apelo a escutar quem sofre, a ver a miséria (não a distante, mas a mais próxima de nós), a partilhar o pouco que temos. A erradicação da fome continua a ser um dos milagres que a dureza do coração humano e os interesses egoístas persistem em não resolver. 

D. Hélder Câmara, o arcebispo de Olinda-Recife, não calava a voz na defesa dos pobres: “O verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus”; “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista.” S. Teresa de Calcutá, pedia para fazer pequenas coisas com um grande amor: “A falta de amor é a maior de todas as pobrezas. O que eu faço é simples: ponho pão nas mesas e compartilho-o.”; “O mundo que Deus nos deu é mais do que suficiente, segundo os cientistas e pesquisadores, para todos; existe riqueza de sobra para todos. É só uma questão de reparti-la bem, sem egoísmo.” 

Todos os evangelhos relatam a multiplicação / partilha dos pães e dos peixes, que Jesus fez numa encosta junto ao lago da Galileia. A multidão partilha, não um banquete de ricos, com iguarias exóticas, mas a refeição simples dos que vivem junto ao lago: pães de cevada e peixe. Todos ficaram saciados e ficou gravada a abundância que resultou da insignificância, bem como a recomendação de nada perder nem deitar fora. Esta refeição partilhada torna-se sinal da humanidade nova e fraterna que Jesus vem realizar, antecipa a Eucaristia em que recebemos o espírito e a força de Jesus, e compromete-nos com todos os famintos: de pão, de justiça, de esperança e de amor. Quantos cestos “sobram” das nossas eucaristias e com quem são partilhados? 

O muito que eram os cinco pães e dois peixes para o jovem, apresentado por André a Jesus, é verdadeiramente insignificante para a multidão a alimentar. Contudo, a lógica do comprar e vender (sugerida por Jesus!) dá lugar à experiência da gratuidade, à descoberta da força do dom que, não só garante a todos o necessário, como faz aparecer uma surpreendente abundância. O pouco, que o jovem entregou nas mãos de Jesus, foi o necessário para o milagre. Triste de quem fica à espera de ter muito para fazer algo. O que marca a diferença, não são os pães ou os peixes, mas o amor que os liberta de um desejo egoísta de posse e os oferece generosamente. O que podia dar uma indigestão a um, saciou a fome a muitos. Se o pouco é tudo, nada mais é preciso! Seria tão bom ir aprendendo que o jeito de Deus fazer milagres é a contar connosco!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 17º domingo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de vida dos homens. De forma especial, as leituras deste domingo dizem-nos que Deus conta connosco para repartir o seu “pão” com todos aqueles que têm “fome” de amor, de liberdade, de justiça, de paz, de esperança.

  • Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a “fome” do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os “profetas” são convidados a realizar.
  • O Evangelho repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da “fome” da multidão que O segue e propõe-Se libertá-la da sua situação de miséria e necessidade. Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo.
  • Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos.

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