XII Domingo do Tempo Comum - Ano C

23-06-2019 08:02

 

 

“Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me.” Lc 9, 23

 

 

 

Este é um tempo de festas e de fins de etapas. Finais do ano escolar, com os exames a confirmar o trabalho de um ano e as notas a premiarem o esforço. Finais de ano pastoral com todas as festas da catequese, Baptismos e primeiras comunhões com sabor a tempo pascal. Há um cheirinho a férias (para os que as têm!), e o mar ou o campo a chamarem por nós. Descanso para uns, continuidade para outros, vivemos em ciclos, muitas vezes sem pensar mais fundo, nem questionar a engrenagem de tudo. É preciso ver para onde vamos e com quem vamos.

O ritmo da liturgia leva-nos a um momento fulcral da vida de Jesus com os discípulos. Para a etapa seguinte os amigos de Jesus precisam passar num exame. Saber se estão capazes do nível seguinte, de arriscar o jogo novo do “quem perde, ganha!”. Duas perguntas apenas, uma mais fácil e outra a valer maior cotação. A matéria para a primeira resposta estava na ponta da língua. Tinham ouvido os ditos de muitas pessoas, conheciam a esperança de Israel, sabiam bem o passado. A resposta à segunda pergunta é que foi mais difícil: Jesus era mais do que aquilo que se dizia, não tinham palavras para o descrever. Tinha traços do passado mas era mais futuro, e Pedro arrisca a resposta que compromete para algo novo. Jesus vai então revelar o seu “bilhete de identidade”, mesmo que eles não consigam ainda entendê-lo.

A teoria ficou gravada no coração deles: um messias sofredor, rejeitado, crucificado, morto e ressuscitado? Não estavam preparados para isto. Então Deus não é Todo-Poderoso, vencedor dos malvados, dominador do universo, sempre triunfador? E antes que despertassem do choque, Jesus fala a todos (os discípulos, outros que o ouviam, aos do seu tempo e de todos os tempos, nós inclusive), sobre o que implica “andar com Ele”, “segui-l’O”. S. Lucas é o único evangelista a dar importância ao “todos” a quem se dirige Jesus, e a sublinhar que a cruz é para levar “todos os dias”. Não há viver com Cristo de diferentes categorias. Ou seguimos ou não seguimos, ou vivemos ou não vivemos. Sem dúvida que a perfeição e o coração de cada um só Deus pode medir. Não é uma prova de velocidade para haver um vencedor, mas de resistência para nos auxiliarmos, e todos chegarmos. 

O jogo do “quem perde, ganha” parece estúpido para as nossas contabilidades. Que ganho é esse que não vê imediatamente, que não se pode depositar num banco ou publicar numa rede social? O individualismo tem por prémio a solidão, a vida “selficada”; a vida feita dom multiplica-se, constrói comunhão. Ultrapassar o “salve-se quem puder” para viver a “salvar todos os que puder”, é a cruz de todos os dias. Cruz que é vida dada, e não roubada, nem acumulada, nem guardada. Se “todos” forem mais importantes do que “eu”, ou só “os meus”, ganhamos verdadeiramente a vida. E, então, não importará menos “para onde vamos”, pois sabemos “com Quem” vamos?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.

  • O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.
  • A primeira leitura apresenta-nos um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega trouxe conversão e purificação para os seus concidadãos. Revela, pois, que o caminho da entrega não é um caminho de fracasso, mas um caminho que gera vida nova para nós e para os outros. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo.
  • A segunda leitura reforça a mensagem geral da liturgia deste domingo, insistindo que o cristão deve “revestir-se” de Jesus, renunciar ao egoísmo e ao orgulho e percorrer o caminho do amor e do dom da vida. Esse caminho faz dos crentes uma única família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.

Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho