VIII Domingo do Tempo Comum - Ano C

03-03-2019 08:09

 

 

 

“O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem.” Lc 6, 45

 

 

Muitas ideias e demasiados propósitos conduzem a pouca prática. É como se diz: “De boas intenções está o inferno cheio.” “Inferno” em sentido metafórico, claro, também como representação do bem que podia ter sido feito e não se fez. Um publicitário espanhol, Joaquín Lorente, apresenta o êxito com esta fórmula: “Uma ideia, bastante olfacto e muita coragem”. E o fracasso com a sua antítese: “Muitas ideias, bastante olfacto e nenhuma coragem”. Percebemos assim melhor a etimologia de “coragem”: um coração que actua. Apesar do medo e das dificuldades, age!

Em três comparações tiradas do quotidiano, Jesus concretiza a exigência de vida que nos propõe para sermos seus discípulos. Na primeira mostra a desgraça de um cego conduzir outro cego. Nos primeiros tempos do cristianismo, o baptismo era também chamado “iluminação”, porque à luz de Cristo, os baptizados viam os verdadeiros valores da vida, escolhiam-nos e podiam indicar a outros o caminho recto. Bem dizemos que a pior cegueira não é “não ver” mas sim, “não querer ver”. Quanto mal, quantas injustiças e atrocidades persistem por tantas cegueiras voluntárias! A advertência aos discípulos alerta para a presunção em que podemos cair de nos julgarmos “donos da verdade”, de propagar critérios que não são os do evangelho de Jesus, e deixarmos de querer “ser como o Mestre”, para nos julgarmos superiores, ilusoriamente mais “iluminados”. Como se deixássemos de olhar o mundo, a vida, as glórias e misérias, e até os olhos dos homens e mulheres nossos irmãos, com o olhar amoroso do Pai que Jesus oferece.

Na segunda comparação é posta em causa a facilidade dos juízos imediatos dos outros. Entre um argueiro e uma trave há uma enorme diferença. O primeiro pode produzir alguma irritação mas a segunda não nos torna cegos? Vemos os pequenos defeitos dos outros e fechamos os olhos aos grandes que nos dominam. E fazemos de pequenas falhas, grandes dramas! A hipocrisia é a representação de um papel falso, faz alguém parecer aquilo que não é. E como no fim de uma peça, também as vestes se despem diante de Deus. A exigência de autenticidade começa primeiro em cada um, despojando-se de máscaras, limpando o coração e os olhos com a água cristalina do Evangelho. Quem sabe não poderíamos chegar à sabedoria de Henry Ford: “Não encontre defeitos, encontre soluções. Qualquer um sabe queixar-se.” 

A árvore boa e a árvore má lembram que é do interior, do coração de cada um que tudo procede. A liberdade dada ao homem cresce na sua orientação para o amor e para a verdade. Quando se faz o mal, se destrói a vida, a liberdade contradiz-se. Não se trata apenas de poder escolher; o que se escolhe promove ou aniquila a liberdade. A maior coragem é a que ajuda a mudar os corações. Que abundância manifesta o nosso coração e que frutos damos em palavras e obras?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

O tema central da liturgia deste domingo convida-nos a refletir sobre esta questão: aquilo que nos enche o coração e que nós testemunhamos é a verdade de Jesus, ou são os nossos interesses e os nossos critérios egoístas?

  • O Evangelho dá-nos os critérios para discernir o verdadeiro do falso “mestre”: o verdadeiro “mestre” é aquele que apenas apresenta a proposta de Jesus gerando, com o seu testemunho, comunhão, união, fraternidade, amor; o falso “mestre”, ao contrário, é aquele que manifesta intolerância, hipocrisia, autoritarismo e cujo testemunho gera divisões e confusões: o seu anúncio não tem nada a ver com o de Jesus.
  • A primeira leitura, na mesma linha, dá um conselho muito prático, mas muito útil: não julguemos as pessoas pela primeira impressão ou por atitudes mais ou menos teatrais: deixemo-las falar, pois as palavras revelam a verdade ou a mentira que há em cada coração.
  • A segunda leitura não tem, aparentemente, muito a ver com esta temática: é a conclusão da catequese de Paulo aos coríntios sobre a ressurreição. No entanto, podemos dizer que viver e testemunhar com verdade, sinceridade e coerência a proposta de Jesus é o caminho necessário para essa vida plena que Deus nos reserva. Do nosso anúncio sincero de Jesus, nasce essa comunidade de Homens Novos que é anúncio do tempo escatológico e da vida que nos espera.

portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org