VIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

02-03-2014 09:14

 

"Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro."

Mt 6, 24

 

Não foi certamente com o bezerro de ouro que os hebreus fizeram no deserto que 

começou a idolatria do dinheiro. Mas este é um exemplo simples de como é possível 

transferir a fé e a confiança, que só é libertadora na relação com um outro e com Deus, 

para um objecto que materializa o poder e reduz a escravo quem lhe presta culto. Da 

história do homem que trabalhava desalmadamente, destruindo a sua vida e a da família, 

para encher o sétimo pote de moedas de ouro (que nunca enchia por mais moedas que lá 

colocasse), ao conto da procura da camisa do homem feliz que curaria o rei da sua 

melancolia (e o único homem feliz encontrado não tinha camisa!), muitos são os relatos 

que apontam a escravidão que o dinheiro gera. Tal como o excesso e a degradação 

retratados no filme “O lobo de Wall Street”, de Martin Scorsese, que retrata uma história

 real de enriquecimento e da degradação por ele gerada a partir de um dos “motores” 

do nosso mundo: a Bolsa de Nova Iorque.

O verdadeiro problema não é o dinheiro mas a sua capacidade de corroer os valores e 

convicções mais profundas do homem. “Os homens esquecem mais rapidamente a morte do

 pai do que a perda do património”, dizia Maquiavel no seu “Príncipe”. Quantas zangas 

familiares e discórdias chegam a finais violentos que são causados pelas partilhas entre 

herdeiros, tantas vezes pela insignificância de poucas coisas deixadas pelos pais. 

Na verdade os bens são um pretexto para vinganças e conflitos mal resolvidos, mas é fácil 

ficar-se prisioneiro da “pobre” consolação da riqueza. Gandhi dizia: “algemas de ouro 

são muito piores do que algemas de ferro.” Na lógica do Evangelho, o importante não é ter 

mas aquilo que se faz com o que se tem. Os bens têm este nome porque se destinam a 

fazer o bem, quando não o fazem, tornam-se males! Até o poeta Bocage dizia do dinheiro: 

Faço a paz, sustento a guerra / Agrado a doutos e a rudes / Gero vícios e virtudes / 

Torço as leis, domino a terra.

Uma constante nas palavras do Papa Francisco tem sido a denúncia “da ditadura de uma 

economia sem rosto”, “uma economia da exclusão e da iniquidade”, e que “essa economia 

mata”. A 20 de Fevereiro, numa mensagem à Academia Pontifícia da Vida escrevia: 

Nas nossas sociedades existe um domínio tirânico de uma lógica económica que exclui 

e por vezes mata, da qual hoje muitíssimos são vítimas, a começar pelos nossos idosos.”. 

Os quatro “nãos” da “Alegria do Evangelho interpelam as nossas atitudes: “Não a uma 

economia de exclusão (…) Não à nova idolatria do dinheiro (…) Não a um dinheiro que 

governa em vez de servir (…) Não à desigualdade social que gera violência.” Como 

podemos fazer a economia que dê vida a todos? 

P. Vítor Gonçalves

in, Voz da Verdade

 

A liturgia deste 8º Domingo do Tempo Comum propõe-nos uma reflexão sobre as nossas 

prioridades. Recomenda que dirijamos o nosso olhar para o que é verdadeiramente 

importante e que libertemos o nosso coração da tirania dos bens materiais. De resto, o 

cristão não vive obcecado com os bens mais primários, pois tem absoluta confiança nesse 

Deus que cuida dos seus filhos com a solicitude de um pai e o amor gratuito e incondicional 

de uma mãe.

  • O Evangelho convida-nos a buscar o essencial (o “Reino”) por entre a enorme bateria

 de coisas secundárias que, dia a dia, ocupam o nosso interesse. Garante-nos, igualmente, 

que escolher o essencial não é negligenciar o resto: o nosso Deus é um pai cheio de

 solicitude pelos seus filhos, que provê com amor às suas necessidades.

  • A primeira leitura sublinha a solicitude e o amor de Deus, desta vez recorrendo à 

imagem da maternidade: a mãe ama o filho, com um amor instintivo, avassalador, eterno, gratuito, 

incondicional; e o amor de Deus mantém as características do amor da mãe pelo filho,

 mas em grau infinito. Por isso, temos a certeza de que Ele nunca abandonará os homens 

e manterá para sempre a aliança que fez com o seu Povo.

  • Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto a fixarem o seu olhar no

 essencial (a proposta de salvação/libertação que, em Jesus, Deus fez aos homens) 

e não no acessório (os veículos da mensagem. 

 

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