V Domingo do Tempo Comum - Ano C

10-02-2019 09:01

 

 

“Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra.” Lc 5, 3

 

 

 

O mar da Galileia é um grande lago. Também tem tempestades e ainda se pesca nele como no tempo de Jesus. Quem visita Israel não se cansa de recordar o encanto do passeio no lago e de quando param os motores e só se ouve a brisa e se sente a ondulação a balouçar o barco. É impossível não recordar aqueles dias de Jesus com os primeiros discípulos que eram pescadores. Foi ali, numa barca que se encheu de peixes em pleno dia, que foram inventados novos pescadores e uma surpreendente pesca.

A beira do lago e uma barca como púlpito foram lugares escolhidos por Jesus para ensinar. Mais do que a sinagoga e os ambientes e lugares sagrados, a palavra de Deus veio ao quotidiano, em dia comum, ao que antes se dizia profano, onde estava quem queria ouvir. Veio para todos, à realidade humana, pessoas boas e menos boas, sem critérios de exclusividade. Da beira do mar ao mar largo onde pede se se lancem de novo as redes, descobre-se o desejo que Jesus tem de chegar a todos, aproximando-se de periferias e encurtando distâncias. Não se pescava em pleno dia, mas este pescador tem uma palavra maior que hábitos e tradições, e é sempre hora para salvar, para trazer à vida quem se afoga em mares de indiferença e desespero. A melhor rede para a arte de pescar que Jesus inaugurou é a sua Palavra; que liberta e salva, transforma e realiza plenamente, compromete e faz presente o reino já aqui.

Símbolo da Igreja, a barca de Pedro e dos primeiros discípulos, pode ser tristemente comparada a outros tipos de navios. Ela não é um “navio de cruzeiros”, cidade flutuante de passeio pelo mundo para privilegiados, com tudo incluído e vista para o mar, escalas turísticas para comprar “souvenirs” e tirar “selfies”, sem mergulhar na vida real de terras e povos, e muita animação constante. Não é “navio de guerra”, com guarnições sempre alerta para a defesa ou o ataque, de armas apontadas aos inimigos, vários, pois há tantos que não são nem pensam como nós, dispostas a morrer para garantir tradições ancestrais. Também não é “barquinho de recreio” para passeios domingueiros, à vela e a motor mas sem se afastar muito da costa, com amigos e membros do clube náutico, com quem se vê a paisagem e se discutem possíveis transformações em terra que raramente se põem em prática. 

A barca de Pedro é um instrumento de trabalho, que tem vela para acolher o vento do Espírito e remos para quando são precisos os braços dos pescadores. Não faz pesca à linha mas vai ao encontro de todos e a todos oferece vida nova e em abundância. Nela todos são corresponsáveis, confiantes de que a sua fragilidade e os seus pecados não são obstáculo ao amor de Deus. Não teme avançar mar adentro. É escola onde se aprende a alegria do reino, que tem a força e a surpresa das sementes, e concretiza em terra a comunhão e serviço que as tempestades proporcionam. Tem a sua confiança em Jesus, que até ensina a caminhar sobre as águas, e nunca falta com a Palavra e o pão e os peixes na beira do mar. Afinal, em que barca vamos?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo leva-nos a reflectir sobre a nossa vocação: somos todos chamados por Deus e d’Ele recebemos uma missão para o mundo.

  • Na primeira leitura, encontramos a descrição plástica do chamamento de um profeta – Isaías. De uma forma simples e questionadora, apresenta-se o modelo de um homem que é sensível aos apelos de Deus e que tem a coragem de aceitar ser enviado.
  • No Evangelho, Lucas apresenta um grupo de discípulos que partilharam a barca com Jesus, que acolheram as propostas de Jesus, que souberam reconhecê-l’O como seu “Senhor”, que aceitaram o convite para ser “pescadores de homens” e que deixaram tudo para seguir Jesus… Neste quadro, reconhecemos o caminho que os cristãos são chamados a percorrer.
  • A segunda leitura propõe-nos reflectir sobre a ressurreição: trata-se de uma realidade que deve dar forma à vida do discípulo e levá-lo a enfrentar sem medo as forças da injustiça e da morte. Com a sua acção libertadora – que continua a acção de Jesus e que renova os homens e o mundo – o discípulo sabe que está a dar testemunho da ressurreição de Cristo.

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