V Domingo do Tempo Comum - Ano A
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada num monte."
Mt 5, 13
Porque a sede de felicidade é de todos, Jesus iniciou o sermão da montanha
com a proposta surpreendente das bem-aventuranças. Pequenos-grandes segredos
para uma vida que se abre aos outros e que faz dos obstáculos oportunidades de
crescimento. Palavras que ecoaram no coração dos que as escutaram, e pelas quais
Jesus pautou a sua vida e a dos seus discípulos. Pronunciadas no presente não são
ideais impossíveis de alcançar mas o modo como Deus já olha para cada um de nós.
"Sal da terra" e "luz do mundo" não são títulos que se hão-de obter num futuro longínquo,
depois de provas realizadas, mas realidades que Jesus reconhece já na multidão de
"ovelhas sem pastor", de gente pobre e simples que o segue e escuta. Deus ama-nos
no tempo presente, e é no presente que revela a grandeza do dom de cada um.
Recentes dados de um estudo europeu revelam um aumento generalizado da corrupção
que afecta também o nosso país: "a corrupção está generalizada, piorou nos últimos
três anos e afecta o dia-a-dia de mais um terço da população" (Público 03.02.2014).
Surpreendente é também a conclusão de Stanton Samenow que tem procurado
entender como funciona o cérebro de ladrões, assassinos e burlões: "os criminosos
julgam-se íntegros (...). Um homem pode cometer centenas de crimes brutais, mas na
sua mente é uma pessoa boa e decente." (Sábado 30.01.2014). Os ouvintes de Jesus
e nós entendemos que o sal não só realça o sabor da comida mas também impede a
corrupção dos alimentos. Mas para isso é necessário que se misture com os alimentos,
assim como os valores de nada servem se permanecem como um ideal que não se põe
em prática. Tanto o pensar como o agir se corrompem quando os valores éticos e morais
se ficam nas boas intenções, e quando a própria fé se adapta à perda do sentido do valor
da vida e dos outros. Creio que foi Gabriel Marcel, um filósofo existencialista cristão, que
escreveu: "quem não vive como pensa, acaba por pensar como vive."
Aprendemos que a luz "viaja" a mais de 300.000 quilómetros por segundo. E que, segundo
o Génesis foi a primeira obra da criação. Mas é na sua falta para ver e para pensar,
e para tudo o que diz respeito à vida que nos damos conta de como tudo depende dela.
Que significa sermos "luz do mundo" e que responsabilidade nos confia Jesus? Primeiro
que tudo é urgente revelar a abundância de vida nova e amor que Deus oferece para levar
a todos, e que tantas vezes guardamos sem saborear, possuímos sem nos deixarmos
contagiar. Depois sermos simples e pobres para descobrir a luz que existe em todos,
que dignifica todos e a todos eleva como farol no meio das tempestades. Por fim,
que acaba por ser um novo princípio, concretizar a luz em obras boas, pequenos gestos
cheios de um grande amor (como dizia Madre Teresa de Calcutá), que iluminam e
incendeiam os caminhos do mundo. Pouca luz vêm os que teimam em fechar os
olhos (e candidatam-se a uns belos trambolhões)!
Pe. Vitor Gonçalves
in, Voz da Verdade
A Palavra de Deus deste 5º Domingo do Tempo Comum convida-nos a reflectir sobre o
compromisso cristão. Aqueles que foram interpelados pelo desafio do “Reino” não podem
remeter-se a uma vida cómoda e instalada, nem refugiar-se numa religião ritual e feita
de gestos vazios; mas têm de viver de tal forma comprometidos com a transformação do
mundo que se tornem uma luz que brilha na noite do mundo e que aponta no sentido desse
mundo de plenitude que Deus prometeu aos homens – o mundo do “Reino”.
- No Evangelho, Jesus exorta os seus discípulos a não se instalarem na
mediocridade, no comodismo, no “deixa andar”; e pede-lhes que sejam o sal que dá sabor ao
mundo e que testemunha a perenidade e a eternidade do projecto salvador de Deus; também
os exorta a serem uma luz que aponta no sentido das realidades eternas, que vence a
escuridão do sofrimento, do egoísmo, do medo e que conduz ao encontro de um “Reino” de
liberdade e de esperança.
- A primeira leitura apresenta as condições necessárias para
“ser luz”: é uma “luz” que ilumina o mundo, não quem cumpre ritos religiosos estéreis
e vazios, mas quem se compromete verdadeiramente com a justiça, com a paz, com a partilha,
com a fraternidade. A verdadeira religião não se fundamenta numa relação “platónica” com
Deus, mas num compromisso concreto que leva o homem a ser um sinal vivo do amor
de Deus no meio dos seus irmãos.
- A segunda leitura avisa que ser “luz” não é colocar a sua
esperança de salvação em esquemas humanos de sabedoria, mas é identificar-se com
Cristo e interiorizar a “loucura da cruz” que é dom da vida. Pode-se esperar uma
revelação da salvação no escândalo de um Deus que morre na cruz? Sim. É na
fragilidade e na debilidade que Deus Se manifesta: o exemplo de Paulo – um homem frágil
e pouco brilhante – demonstra-o.
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