Solenidade de todos os Santos - Ano B

01-11-2015 09:04

 

 

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” Mt 5, 7

 

“Santo? Quem? Eu?! Deves estar a brincar!” Certamente conseguimos imaginar a estranheza que qualquer conversa sobre a santidade acaba por gerar, e ainda mais se a conjugamos como possibilidade de vida presente. Vulgarmente, “santo” refere-se a alguém que já morreu, que “fez muito bem”, mas também, em tom depreciativo, “alguém muito religioso ou beato”. Santidade parece ter pouco a ver com felicidade, com a vida comum e os sonhos que nos habitam, naquela distância (que dá jeito!) de o céu ser lá no alto e a terra o chão que pisamos. Mas Jesus uniu a santidade e a felicidade, como uniu o céu e a terra, e fez-se Deus connosco! 

Ao ler as “bem-aventuranças” espanta-me a “pouca religiosidade” que as reveste. Falam do céu como uma recompensa, presente ou futura: o Reino dos Céus é dos pobres em espírito e dos perseguidos por amor da justiça, os puros de coração verão a Deus e são seus filhos os que promovem a paz, é grande nos céus a recompensa para os que sofrerem por Jesus. Mas os caminhos da felicidade, o modo como podemos ser “bem-aventurados”, está tão distante das habituais práticas religiosas e rituais: ser pobre de espírito, chorar, ser humilde, ter fome e sede de justiça, ser misericordioso e puro de coração, promover a paz, sofrer perseguição por amor da justiça, sofrer por ser amigo de Jesus! Mas que felicidade/santidade é esta que não se baseia no sucesso e realização pessoal, na abundância de riquezas, em grandeza e fama, ou em devoção religiosa e saber teológico? Pode atrair alguém ainda hoje?

Cada “bem-aventurança” dá-nos a conhecer melhor o “bem-aventurado” que é Jesus Cristo. São pedaços do seu rosto e da sua vida, revelam-nos a felicidade que nos ensina a construir. Uma felicidade concreta, que começa aqui e nunca mais termina, porque o céu não é meta inatingível mas vida nova e plena na surpresa absoluta do amor. E porque estas propostas de felicidade são “boa nova” para cada tempo, gosto de imaginar outras bem-aventuranças que lhes podiamos juntar, nascidas deste quotidiano que não é banal mas tão cheio de graça. Podia ser assim: aos que andam fechados em si mesmos: “felizes os que enchem cada dia de atenção aos outros, porque a sua carga se tornará mais leve”; às famílias que se vão distanciando: “felizes as famílias que comem juntas sem interrupção de telemóveis ou televisão, porque descobrirão o prazer de conversar”; e aos políticos tentados pelo poder: “felizes os políticos honestos e responsáveis pelo bem comum, porque poderão não ser reeleitos mas nunca serão escândalo de capa de jornais”; e aos professores desanimados por tantas reuniões e metodologias: “felizes os professores dedicados aos alunos e ao gosto de ensinar, porque lutarão contra alunos, pais e burocracias mas algo do que semearam dará fruto”; aos jovens aliciados por mil seduções: “felizes os jovens crescem no dom de si e não se deixam escravizar por nada, porque viverão no amor e na verdade”; aos filhos com pais idosos: “felizes os que encontram tempo e carinho para visitar os mais velhos, porque o seu coração encher-se-á de luz”; aos cristãos acomodados: “felizes os amigos que Me deixam olhá-los nos olhos, porque a vossa vida será nova todos os dias”… e cada um pode sugerir tantas mais!

Creio que a santidade é mesmo para todos! E vive-se todos os dias. Às vezes basta sermos a pessoa bonita que Deus já criou em nós!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

  • Primeira leitura: Como descrever a felicidade dos mártires e dos santos na sua condição celeste, invisível? Para isso, o profeta recorre a uma visão.
  • Salmo responsorial: O salmo de hoje proclama as condições de entrada no Templo de Deus. Ele anuncia também a bem-aventurança dos corações puros. Nós somos este povo imenso que marcha ao encontro do Deus santo.
  • Segunda leitura: Desde o nosso baptismo, somos chamados filhos de Deus e o nosso futuro tem a marcada da eternidade.
  • Evangelho: Que futuro reserva Deus aos seus amigos, no seu Reino celeste? Ele próprio é fonte de alegria e de felicidade para eles.

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