Santíssima Trindade - Ano B

31-05-2015 10:12

 

 

 

"Ide e ensinai todas as nações." Mt 28, 19

 

O mar sempre foi uma das minhas paixões. Talvez por ter nascido numa belíssima cidade costeira de Angola e, desde cedo, vibrar com este movimento perpétuo das ondas. Mas o que me encanta mesmo é entrar por ele adentro, mergulhar e nadar, invejar os peixes e golfinhos, boiar e olhar o céu, saborear a sua grandeza e admirar a sua força. Não me canso de o olhar quando não posso estar dentro dele, e admiram-me as multidões que se esparramam ao sol como lagartos, sem o mesmo entusiasmo de andar na água. Todos somos diferentes e escolhemos o que mais nos apraz, mas com mar convidativo ao pé, não me encontrarão na areia.

Quando penso na grandeza de Deus lembro-me muito do mar. E ainda que me expliquem as marés com a força gravitacional da lua, e as correntes com as mudanças de temperatura, nada dá maior prazer que entrar nele. O seu movimento constante, o sal que se apega à pele, as belezas desfocadas que se adivinham (e só são vistas com óculos especiais), aquele infinito desconhecido e próximo, a força incontrolável, a vida admirável que abriga, os verdes, os azuis e os reflexos falam-me tanto de Deus. Pois, com Deus, trata-se também de "ir entrando n'Ele" (ou deixá-lo entrar em nós; quem sabe mesmo, descobri-l'O já em nós desde o princípio!). Pois não somos materialmente constituídos por 70% de água? Entrar no seu mistério pede que nos dispamos das nossas pequenas "omnipotências", dos desejos de controlar e explicar tudo, de colocar a sua grandeza na "covinha" da beira-mar que até S. Agostinho dizia ser impossível.

Um só Deus em três pessoas parece inverosímil. Não se compreende com lógica, mas com amor. Com a surpresa e a disponibilidade de um mergulho confiante nos braços que nos amparam. Como dizia Madre Assunción Soler Gimeno, fundadora das Irmãs Carmelitas do Sagrado Coração de Jesus, na belíssima Málaga, banhada pelo Mediterrâneo: "Só com as vossas forças não confiem em nada, mas com Deus, valemos tudo, saberão tudo, poderão tudo." Como ser "com Deus" sem ser "por dentro"? Vivendo o dinamismo do Pai que é amor e doação de vida, aprendendo com Jesus a derrubar muros e encantarmo-nos em salvar o que parecia perdido, criando o que o Espírito inspira para uma vida mais plena? "Ensinar as nações" é mostrar que ninguém está fora da comunhão de Deus, que o perdão é chave de crescimento, e que as nossas vidas estão entrelaçadas. A trindade que Deus é revela-se na comunhão que fazemos, nos diálogos e laços que alimentamos, na diversidade que fazemos riqueza, no amor que não deixamos gastar-se. Não há felicidade na solidão!

E volto ao mar, para mais um mergulho, com as palavras do poeta Ruy Belo: "Grande diálogo será esse contigo / quando de todo recolheres / a linha dos meus dias [...] / Aceita eu ser uma só palavra / e nela todo dizer-me / [...] Recebe no teu mar senhor / meu íntimo destino de algas e de escamas."

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A Solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar o mistério que se esconde por detrás de "um Deus em três pessoas"; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.

  • Na primeira leitura, Jahwéh revela-se como o Deus da relação, empenhado em estabelecer comunhão e familiaridade com o seu Povo. É um Deus que vem ao encontro dos homens, que lhes fala, que lhes indica caminhos seguros de liberdade e de vida, que está permanentemente atento aos problemas dos homens, que intervém no mundo para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime e para nos oferecer perspectivas de vida plena e verdadeira.
  • A segunda leitura confirma a mensagem da primeira: o Deus em quem acreditamos não é um Deus distante e inacessível, que se demitiu do seu papel de Criador e que assiste com indiferença e impassibilidade aos dramas dos homens; mas é um Deus que acompanha com paixão a caminhada da humanidade e que não desiste de oferecer aos homens a vida plena e definitiva.
  • No Evangelho, Jesus dá a entender que ser seu discípulo é aceitar o convite para se vincular com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar a sua proposta de vida no meio do mundo e são enviados a apresentar, a todos os homens e mulheres, sem excepção, o convite de Deus para integrar a comunidade trinitária.

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