III Domingo do Tempo Comum - Ano A

26-01-2014 08:49

 

"Para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou”.

Mt 4, 16

 

Jesus começou pela periferia. Foi na Galileia, território distante da “santa” Jerusalém, 

terra de fronteira e de misturas várias, culturais e religiosas, objecto de menosprezo dos 

habitantes da Judeia, que começou a sua missão. Lugar de passagem de muitas caravanas

 pela “estrada do mar”, dominados no passado pelos Assírios, considerava-se que 

“viviam nas trevas e na morte” porque, como em todas as fronteiras, a vida é feita de

 compromissos e mútuas influências. É na periferia da terra prometida, nos distantes 

e esquecidos territórios de Zabulão e Neftali que a luz das palavras e dos gestos de

 Jesus vai começar a brilhar. Como algo bom e novo. Bom porque salva, enche de 

sentido a dolorosa vida, renova a esperança e compromete todos na mudança: 

“Convertei-vos” (assim se entende melhor o texto em grego: “metanoêite”, 

“mudai de vida”). E novo porque liberta, cura, recria e levanta das “mortes” que o 

ritualismo vazio e a religião legalista acabam por gerar. Foi pelos pobres, pelos 

improváveis, pelos que contavam pouco, que Jesus começou.

E começou pelo princípio. Pelo anúncio de que é possível mudar, que o peso do

 passado não é maior do que a esperança do futuro, e só fica agarrado ao mal quem 

não gosta de si, nem dos outros, nem de Deus. Por isso a mudança é em função

do “reino”, essa palavra que abarca toda a Boa Nova (“euangellion”), que toma corpo 

na pessoa de Jesus e que apetece seguir para toda a parte. E aí começam as 

surpresas! Apetece lembrar mais um dito do Papa Francisco: “O nosso Deus não é 

um Deus de hábitos: é um Deus das surpresas!(21.01.2014)”. Porque Jesus não só 

aceita que O sigam, mas Ele próprio chama alguns para andarem com Ele. Como 

nos esquecemos tão facilmente dessa condição de caminhantes, de amigos a caminho, 

que vamos ao encontro de conhecidos e desconhecidos e nos alegramos porque

 uma boa notícia enche as nossas vidas?      

No fundo, a periferia é sempre o que está mais próximo. Nas relações humanas

 também caminhamos da periferia para o centro no conhecimento e na amizade. 

É a estratégia da raposa e do principezinho (Saint-Exupéry), de cada dia sentar-se 

mais perto, e começar a antecipar a felicidade do encontro. É um caminho de

 construção de laços e afectos, e se os discípulos foram convidados a andar com 

Jesus não foi para fazer turismo, mas para que no caminho por dentro de cada um,

 o conhecimento gerasse amor e compromisso. Nas relações, na evangelização, 

a construção da paz ou da unidade, se não aceitamos a humildade de caminhar da 

periferia para o centro, e tentamos impôr rapidamente o que julgamos certo e 

inquestionável, podemos fazer revoluções, mas o crescimento e a vida boa e 

nova de Deus não acontecem. Como podemos aprender com Jesus? 

Pe. Vitor Gonçalves

in, Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo apresenta-nos o projecto de salvação e de vida 

plena que Deus tem para oferecer ao mundo e aos homens: o projecto do “Reino”.

  • Na primeira leitura, o profeta/poeta Isaías anuncia uma luz que

 Deus irá fazer brilhar por cima das montanhas da Galileia e que porá fim às trevas que 

submergem todos aqueles que estão prisioneiros da morte, da injustiça, do sofrimento, do 

desespero.

  • O Evangelho descreve a realização da promessa profética: 

Jesus é a luz que começa a brilhar na Galileia e propõe aos homens de toda a terra a

 Boa Nova da chegada do “Reino”. Ao apelo de Jesus, respondem os discípulos: eles 

serão os primeiros destinatários da proposta e as testemunhas encarregadas de levar 

o “Reino” a toda a terra.

  • A segunda leitura apresenta as vicissitudes de uma 

comunidade de discípulos, que esqueceram Jesus e a sua proposta. Paulo, o apóstolo, 

exorta-os veementemente a redescobrirem os fundamentos da sua fé e dos compromissos 

assumidos no baptismo.

 

Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho