II Domingo do Tempo Comum - Ano A

19-01-2014 08:46

 

"Aquele sobre quem vires o Espírito Santo descer e permanecer 

é que baptiza no Espírito Santo”.

Jo 1, 33

 

A notícia ia-me passando desapercebida no olhar rápido pelo interior do jornal. Como se 

fosse mais uma desgraça entre muitas outras, bem longe das minhas preocupações. Mas 

parei e li. Dizia assim: “O número de cristãos mortos pela sua fé quase duplicou em 2013. 

Só na Síria, foram mortos mais do que em todo o ano anterior – segundo o relatório anual 

da Open Doors (Portas Abertas), uma organização de apoio a cristãos perseguidos

(Público 9.01.2014). Sim, era longe: na Síria, na Coreia do Norte (“50 mil a 70 mil estão

 em campos de presos políticos”), na Somália, no Iraque, na Nigéria, no Egipto, no 

Afeganistão. Lugares onde se morre por muitas razões (como se vê na tv), e parece

 que também por ser-se cristão (e também por professar-se outras religiões). Tenho 

em comum com eles o baptismo, não só na água, mas no Espírito Santo como João Baptista

 diz no Evangelho de hoje. A fé no Senhor Jesus e a alegria de sentir-me Igreja. Mas vivo 

a anos-luz do seu sofrimento, e é tão fácil não arriscar nada para poder ir a uma igreja ou 

falar publicamente do amor de Deus. Sem que me prendam ou me atirem pedras! Mas

 também sem ser eu a atirá-las ou a defender a violência como única resposta!

Não defendo o martírio de sangue como a melhor expressão da fé. “Dar a vida aos

 bocadinhos”, na fidelidade e coragem quotidianos, mesmo num ambiente favorável tem

 tanto ou mais valor. Claro que me questiono se há “risco de viver guiado pelo Espírito 

Santo” numa sociedade de “tradição cristã”, com valores humanos minimamente assumidos, 

mas onde a corrupção e a injustiça às vezes até acontecem com um pouco de “àgua benta” 

ou alguns silêncios comprometidos. O perigo de um acomodamento da fé em Jesus Cristo 

caminha de mãos dadas com o deixar de escutar o Espírito Santo, de não arriscar viver mais

 atento aos débeis que as sociedades “desenvolvidas” também geram, de calar os apelos

 à verdade e à justiça sempre necessários. Lembro-me da história daquele Bispo (podia ser

 um padre ou leigo) que dizia: “os primeiros cristãos onde iam e falavam de Jesus eram 

atirados aos leões; eu, aonde vou, dão-me chá!” Claro que não são precisos leões ou

outras feras para comprovar a força do Evangelho, mas o que arriscamos em ser cristãos,

 hoje?

E porque as notícias são como as cerejas aqui deixo uma sugestão de aprofundamento 

para um estudo apresentado esta quinta-feira sobre “Literacia social: os valores como 

fundamento de competência” onde se constata que “86,4% das pessoas que ganham até 

500 euros considera muito importante ajudar os outros, percentagem que vai baixando à 

medida que os rendimentos aumentam e que atinge o valor mais pequeno – 46,7% – quando 

chega ao grupo dos que ganham mais de 4 mil euros por mês” e se conclui: “Os portugueses 

com mais habilitações e mais rendimentos são os que dão menos importância à solidariedade, 

à justiça e aos valores democráticos.”. Houve tempos em que nós cristãos fomos 

considerados pobres e pouco letrados!

Pe. Vitor Gonçalves

in, Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo coloca a questão da vocação; e convida-nos a situá-la no contexto do projecto de Deus para os homens e para o mundo. Deus tem um projecto de vida plena para oferecer aos homens; e elege pessoas para serem testemunhas desse projecto na história e no tempo.

  • A primeira leitura apresenta-nos uma personagem misteriosa – Servo de Jahwéh – a quem Deus elegeu desde o seio materno, para que fosse um sinal no mundo e levasse aos povos de toda a terra a Boa Nova do projecto libertador de Deus.
  • A segunda leitura apresenta-nos um “chamado” (Paulo) a recordar aos cristãos da cidade grega de Corinto que todos eles são “chamados à santidade” – isto é, são chamados por Deus a viver realmente comprometidos com os valores do Reino.
  • O Evangelho apresenta-nos Jesus, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Ele é o Deus que veio ao nosso encontro, investido de uma missão pelo Pai; e essa missão consiste em libertar os homens do “pecado” que oprime e não deixa ter acesso à vida plena.

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