I Domingo do Advento - Ano A

01-12-2019 08:10

 

 

 



 

 

“Estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem.” Mt 24, 44

 

 

Gostamos tanto de tudo o que é novo, que nem nos perguntamos se precisamos mesmo dele. E se o novo for barato, quase oferecido em saldos programados como o último “black friday”, é como se nos saísse a “sorte grande”. Só que esquecemos a fugaz novidade das coisas, rapidamente ultrapassadas por modelos mais recentes e modas mais sedutoras. Lidamos com dificuldade a rapidez com que tudo passa e acaba. Como imaginou Paul Auster em “No país das últimas coisas”; um olhar interpelador da nossa realidade: “Nada dura, compreendes, nada, nem mesmo os pensamentos dentro da nossa cabeça. E não vale a pena perdermos o nosso tempo à procura seja do que for. Quando uma coisa desaparece, é o seu fim.”

Desejamos um novo diferente. E parece que gastamos essa esperança em cada novidade que aparece. Vamos arriscando cada vez menos, com maior cuidado. Fica o perigo de nos fecharmos por tanta desconfiança. Ou escolhemos gastarmo-nos por tudo aquilo que passa. Clarice Lispector dizia: “Corro perigo / Como toda pessoa que vive / E a única coisa que me espera / É exatamente o inesperado.” O inesperado que é Deus nunca desiste de vir ao nosso encontro.

O tempo cristão parece uma espiral ascendente. Voltamos ao advento que nos prepara para celebrar a encarnação de Cristo, um passo mais à frente, um pouco como dizia Vinícius de Moraes, “a viver cada segundo / como nunca mais”! As palavras de Jesus despertam-nos da indiferença e do sono, e abrandam a agitação e a pressa: “vigiai”, “compreendei”, “estai também vós preparados”! É certamente muito mais do que preparar árvores de natal, presépios, presentes e ceias natalícias. Tudo isso terá o seu lugar, mas será possível também o encontro? Se é a vinda de Cristo que esperamos, o seu nascimento que celebramos, estaremos disponíveis para que Ele nos encontre? E onde? E como?

Porque há tanta correria e dispersão nas nossas vidas, Ele vem ao lugar onde habitamos. À casa, ao trabalho, à mesa do café, ao ginásio, à escola, ao hospital. Aos lugares onde semeamos a nossa vida em tantos gestos cheios de entrega. Mais importante que o lugar é como nos pode Ele encontrar! Como estaremos atentos para O reconhecer, que tempo lhe daremos para nos falar, que lugar poderá encontrar no nosso coração! Envolvidos na azáfama das coisas, dos “natais de catálogo”, será que não corremos o perigo de perder mais uma ocasião favorável, uma possibilidade de nascer de novo, e de acolher o novo que nunca mais acaba?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo apresenta um apelo veemente à vigilância. O cristão não deve instalar-se no comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina, na indiferença; mas deve caminhar, sempre atento e vigilante, preparado para acolher o Senhor que vem e para responder aos seus desafios. 

  • A primeira leitura convida os homens - todos os homens, de todas as raças e nações - a dirigirem-se à montanha onde reside o Senhor. É do encontro com o Senhor e com a sua Palavra que resultará um mundo de concórdia, de harmonia, de paz sem fim.
  • A segunda leitura recomenda aos crentes que despertem da letargia que os mantém presos ao mundo das trevas (o mundo do egoísmo, da injustiça, da mentira, do pecado), que se vistam da luz (a vida de Deus, que Cristo ofereceu a todos) e que caminhem, com alegria e esperança, ao encontro de Jesus, ao encontro da salvação.
  • O Evangelho apela à vigilância. O crente ideal não vive mergulhado nos prazeres que alienam, nem se deixa sufocar pelo trabalho excessivo, nem adormece numa passividade que lhe rouba as oportunidades; o crente ideal está, em cada minuto que passa, atento e vigilante, acolhendo o Senhor que vem, respondendo aos seus desafios, cumprindo o seu papel, empenhando-se na construção do "Reino".
  • Grupo Dinamizador:
    Joaquim Garrido, Manuel Barbosa, José Ornelas Carvalho