Festa do Baptismo do Senhor - Ano A

12-01-2014 09:12

 

 

"Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça”.

Mt 3, 15

 

Hesitei demoradamente em iniciar estas palavras semanais com a experiência forte do filme

 “12 anos escravo” que relata o drama da escravatura nos meados do século XIX nos Estados Unidos. Baseado na vida real de Solomon Northup, que vivendo livre em Nova Iorque em 1841,

 com a esposa e os filhos, se viu reduzido à condição de escravo por 12 anos nas grandes propriedades do sul esclavagista. O momento em que pôde, de novo, assumir o seu nome

 e a sua condição livre, sem medo de chicotadas, tem o sabor de um renascimento. E não

consigo desligá-lo desta identificação de Cristo com a humanidade decaída, na fila dos

 pecadores para o baptismo de penitência de João, e com a voz de Deus que Lhe diz 

(e nos diz): “Este é o meu Filho muito amado!

É verdade que o Baptismo, para a maioria de nós, baptizados em bébés, é algo que vamos descobrindo com o crescimento. Mas será que o fazemos mesmo? Não permanece como 

um ritual do passado, como uma espécie de carimbo no passaporte da vida (que abrirá

algumas “alfândegas religiosas”), sem nunca o saborearmos como fonte inesgotável de vida? Acreditamos que “ser filho muito amado do Pai” não é uma figura de retórica ou um símbolo 

bonito? E como acreditaremos se somos herdeiros de tantas espiritualidades que, acentuando

 o peso dos pecados, nos despersonalizam e fazem esquecer o nosso nome (como no filme)

 com que Deus nos chama: ”meu filho, minha filha!

Na mensagem do Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco aponta “a fraternidade como 

fundamento e caminho para a paz”. Era bom não arquivá-la nos documentos lidos, mas

 assumir algumas consequências. As que estão ao alcance de cada um, e as que em

grupo podemos assumir como gestos de mudança. Na primeira audiência deste ano

 fala-nos do nosso Baptismo como fonte: “Por ele, mergulhamos na fonte inesgotável 

de vida, que provém da morte de Jesus. Assim podemos viver uma vida nova, de

 comunhão com Deus e com os irmãos. Ainda que muitos não tenhamos a mínima 

lembrança da celebração deste sacramento, somos chamados a viver cada dia 

aspirando à vocação que nele recebemos.” Felizes palavras no dia em que é anunciado

 pela Santa Sé que o único 'título eclesiástico' honorífico que será concedido - e ao qual corresponderá ao apelativo de 'monsenhor' - será o Capelão de Sua Santidade

 (no tempo de Paulo VI eram 14, que João Paulo II reduziu a 3). Talvez com menos 

títulos nos descubramos mais irmãos!

Pe. Vitor Gonçalves

in, Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo tem como cenário de fundo o projecto salvador de Deus. 

No baptismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, 

que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. 

Cumprindo o projecto do Pai, Ele fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e 

humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, 

para que pudéssemos chegar à vida em plenitude.

  • A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos 

homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do Espírito 

de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer 

ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.

  • No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o 

Filho/“Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar 

a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se

 com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de

 os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.

  • A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para 

concretizar um projecto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” 

e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos 

devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.

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