Baptismo do Senhor - Ano C

13-01-2019 08:36

 

 

 

Quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado.” Lc 3, 21

 

 

Durante alguns anos julguei que me lembrava do meu baptismo. Do padre e dos meus pais, da pia e da água a cair na minha cabeça, da igreja no centro da cidade do Lobito. É claro que não podia lembrar o que me aconteceu com dois meses de vida, mas foi o baptismo do meu irmão ou dum primo, pelos dois ou três anos, que em mim ficou gravado. A fotografia enviada aos meus avós mostra um bebé num lindo vestido, num banco do fotógrafo Quitos! Poucos lembramos o dia do nosso baptismo, mas isso não tira força ao que aí começou.

Descobri mais tarde a diferença entre dizer “fui baptizado” e dizer “sou baptizado”. É a surpresa do encontro com Jesus Cristo vivo, na diversidade da sua presença, especialmente em testemunhas cheias do Espírito Santo. E a descoberta da Igreja, não como clube de perfeitos mas comunidade de pessoas, frágeis e admiráveis, Igreja santa e pecadora, a escutar, a tentar viver, e a espalhar as palavras vivas do Senhor Jesus. E continuo a entrar no baptismo como fonte de vida e graça que não se esgota. Não é algo simplesmente do passado, que uma fotografia e um registo assinalam. É do presente, e vai ser do futuro, na surpresa de saborear o que é ser filho amado de Deus, com irmãos de toda a parte. Na alegria de ser padre lembro o que dizia Santo Agostinho: Para vós, sou Bispo; convosco sou cristão. Nome de serviço, o primeiro; de salvação, o segundo.” 

Para além de um confronto entre baptismo de crianças ou baptismo de adultos, é fundamental a autenticidade e a verdade com que ele é uma decisão importante para os pais de uma criança e para os próprios. Uma decisão aprofundada no conhecimento de Cristo, uma opção de vida renovada pelo Evangelho, um futuro empenhado na transformação do mundo. É grande ainda a força da tradição esvaziada de sentido, e da festa, sem caminho antes nem depois, no baptismo de crianças. Falta um dinamismo maior na proposta da fé aos adultos e um acolhimento feliz de quem duvida e faz perguntas! É preciso passar do banho que facilmente seca, para a torrente que leva vida e floresce os desertos!

Baptismo tem sabor de princípio! Fala mais do presente e do futuro. Revela o amor primeiro de Deus, que não está dependente dos nossos sucessos, mas se dá todo, e em cada momento. Tantas vezes mal-amados e desencantados por amores tipo “toma lá, dá cá”, é difícil acreditarmos que somos “filhos muito amados”. Deus não espera os nossos “melhores resultados” para um prémio proporcional, pois Ele “ama sem medida”, parafraseando Santo Agostinho: “A medida do amor é amar sem medida”. Nunca é tarde para viver a alegria de ser baptizado!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 


A liturgia deste domingo tem como cenário de fundo o projecto salvador de Deus. No Baptismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projecto do Pai, Jesus fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado, empenhou-Se em promover-nos para que pudéssemos chegar à vida plena.

  • A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Animado pelo Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.
  • No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética veiculada pela primeira leitura: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito, e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
  • A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projecto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.
 
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org